Traição. Crise. Pressão. Tensão. Rebelião. Motim. Chantagem.
Palavras duras marcaram a semana política em Brasília, após a
primeira derrota de Dilma no Senado,
apesar da ampla maioria da base aliada do governo.
Nada aconteceu que seja surpreendente para os leitores do
Balaio. Na terça-feira, quando a presidente ainda estava em viagem, já era
possível prever as dificuldades que encontraria na volta da Alemanha, após o
manifesto anti-PT divulgado pelo principal partido da base aliada, o PMDB velho
de guerra.
Estava na cara que, na primeira curva, os aliados
descontentes dariam o bote. Só o governo parece ter sido apanhado de surpresa
com a rejeição do nome indicado por Dilma para dirigir a Agência Nacional de
Transportes Terrestres, o orgão encarregado da construção do trem-bala.
É nestas horas que fica mais evidente a falta que faz o
ex-presidente Lula, ainda a maior liderança política do país, no jogo de meio
de campo entre o governo, as várias correntes do PT e os partidos da monumental
base de sustentação do governo.
Desde o início do governo Dilma, foi a ele que recorreram
todos os descontentes nas horas de tensão entre o Executivo e as lideranças
partidárias.
Craque na negociação e na conciliação, o ex-presidente servia
de anteparo a Dilma, sempre prometendo a quem o procurava para se queixar do
governo que falaria com a presidente para dar um jeito de resolver os
problemas. Os dois faziam tabelinha, jogavam juntos, ganhavam tempo tocando a
bola.
Sem Lula no meio de campo, momentaneamente fora de jogo,
Dilma ficou sem proteção na defesa e foi ao ataque atabalhoadamente, comprando
várias brigas ao mesmo tempo e demonstrando total ausência de articulação
política no Palácio do Planalto.
Quando perdeu Antonio Palocci, uma espécie de
primeiro-ministro, logo no início do governo, Dilma ficou exposta. Tratou de
montar um trio de ferro no meio de campo com as ministras Ideli, Gleisi e
Belchior, mas elas mostraram pouca intimidade com a bola.
Podem ser boas pessoas, mas não são do ramo, como diria o
ex-governador Adhemar de Barros, um profissional da política no pior sentido
possível.
Em Brasília, como todos sabemos, o jogo de interesses é tão
pesado que não há lugar para amadores. Quase ninguém ali briga por ideias,
ideais, propostas para melhorar a vida do país.
As divergências nada têm de políticas, programáticas ou
ideológicas. Briga-se apenas por emendas (quer dizer, verbas), boquinhas,
espaço no governo e hegemonia no poder.
Todos lutam o tempo todo pensando apenas na própria
reeleição. É a permanente crise dos dois "vês": verbas e vagas (nos
ministérios e em todos os escalões) para agradar a cupinchada.
Acontece que não dá para criar mais ministérios, que já são
quase 40, e não há dinheiro sobrando nos cofres públicos em época de queda do
PIB para atender às demandas de todas as excelências aflitas e famintas em ano
eleitoral. A conta simplesmente não fecha.
Quando Dilma se vê obrigada, como aconteceu na quinta-feira,
a pedir socorro ao vice Michel Temer, para ajudá-la a apagar os focos de
incêndio na base aliada, é porque a situação está mesmo ficando brava. E o que
se decidiu? Liberar logo as verbas das emendas parlamentares...
O desafio para o governo agora é baixar a bola e ganhar tempo
até que Lula possa voltar ao meio de campo e correr os 90 minutos da campanha
eleitoral. Quando isso vai acontecer ainda ainda não sabemos.
Conversei ontem com um dos médicos de Lula, que tinha acabado
de sair do quarto do ex-presidente. Estava mais animado do que na véspera,
garantindo que foi o melhor dia dele desde a sua internação na semana passada.
Ainda sem previsão de alta, tomando cinco remédios
antibacterianos na veia para combater a pneumonia, provavelmente Lula deverá
voltar para casa na próxima semana, mas depois terá que ficar pelo menos mais
um mês descansando para se recuperar dos tratamentos pesados de químio e
radioterapia.
A importância de Lula na política brasileira ainda é tão
forte que influencia até os rumos da oposição. Hoje, o humor da política
brasileira depende mais dos médicos do que dos profissionais do ramo.
Afinal, foi na ausência forçada do ex-presidente no cenário
político, sem poder se dedicar como queria à campanha de Fernando Haddad em São
Paulo, que José Serra correu para formar aliança com o quase infiel Gilberto
Kassab, e criou coragem para se candidatar mais uma vez a prefeito.
Claro que não é fácil encontrar alguém para fazer o papel de
Lula, um jogador político cada vez mais raro, não só aqui dentro como lá fora.
Qualquer time sentiria a falta dele.
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