O senador Demóstenes Torres seria apenas mais um caso de
promiscuidade entre políticos e interesses privados – criminosos ou “apenas”
escusos -, somente um dos muitos que a
gente sabe que há por aí.
Com bicheiros, com empreiteiros e – os mais sofisticados –
com banqueiros e outros “financeiros”.
Seria, não fosse a evidente cumplicidade que se formava entre
ele e dirigentes do Judiciário e com a mídia.
Demóstenes era um dos “cavaleiros da moralidade”, incensado
pela mídia em geral e, como se sabe agora, com “canais particulares” com o
núcleo do que Brizola chamava de “Comando Marrom”, a revista Veja, com a mesma
intimidade de quem “quebrava galhos” de Carlinhos Cachoeira.
Ele esteve no centro de quase todas as “ondas moralizadoras”
da imprensa desde o início do Governo Lula que, curiosamente, começaram com o
caso Waldomiro Diniz – Carlinhos Cachoeira, que agora, sabe-se, era saudado por
ele como um “Fala, Professor!”
Demóstenes, porém – o legado refere-se à sua auto-admitida
morte política -, deixa uma lição
para a política brasileira.
Uma lição que, mesmo sendo ensinada desde os anos 40 pela
UDN, ainda não foi completamente absorvida pelo nosso pensamento.
Não é raro, nem é exceção que os cruzados da moralidade
tenham, eles próprios, os fundilhos imundos.
E não é raro, nem exceção, que estejam sempre associados às
causas mais desumanas, antipovo e antipaís, que se possa conceber.
Demóstenes era assim, ao ponto de dizer que conspurcar, sob
convite oficial, a Suprema Corte brasileira, dizendo em seus salões que foram
os negros os responsáveis pela escravidão e que as negras, no Brasil
escravocrata, consentiam em fazer sexo com
seus senhores.
Bem, não dá para dizer que essa visão de
“consensualidade” entre escravo e senhor
, infelizmente, esteja desentranhada dos nossos tribunais, não é?
Aliás, ela habita, nesta e em outras variantes, a cabeça da
elite brasileira. Porque são assim as mentes que concebem uma modernidade onde
exista fome, um cosmopolitismo onde existam colônias, um progresso que consuma
gente, uma democracia onde exista uma gentalha inferior, que deva ser grata aos
luminares que a condenaram, por séculos, ao atraso e à perda de autonomia.
É esse o mundo digno, honesto e ético que apregoam.
O exemplo dos fundilhos de
Demóstenes, revelados – e ainda só parcialmente – num golpe do acaso e é
eloquente como poucos.
Sigam-lhe os outros estreitos laços, além de Cachoeira, e
outros se revelarão tão mal-cheirosos, a menos que a mídia se encarregue, como
parece provável, de lançá-lo logo ao mar, como um estorvo.
O que nos ensina Demóstenes, pela enésima vez, é que não há
moralidade possível em quem rejeita o primeiro princípio da honradez, que é o
de que todos os seres humanos são iguais em direitos e que a política não é um
jogo de nobres, mas uma ferramenta do bem e do progresso comuns.
Porque não há imoralidade maior que defender a exclusão, o
atraso, a desumanidade.
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