92% dos 43.521.108 votos deram a vitória ao famoso anônimo no
BBB deste ano. 43.521.108 votos! Ao custo de R$ 0,30 por ligação… Bem, nem vou
partir para calcular o quanto renderam à Globo & Operadoras TODAS as
ligações ao programa nos últimos 3 meses. Nem vou concluir que 43.521.108
vidiotas ligaram para a Globo para votar. Porque nem se a Globo estivesse
transmitindo uma invasão de alienígenas na Terra, teria tamanha audiência. Fato
é que muitos assistem mas não chegam ao extremo de “interagir”. Portanto, se
houve mais de 43 milhões de votos, significa que os que ligaram, mandaram sms,
e-mail, etc, fizeram isso repetidamente. E põe repetidamente nisso, aliás!
Basta observarmos a média registrada pelo Ibope na última
noite do BBB, que foi de 25 pontos. Se cada ponto equivale a 188 mil
domicílios, teríamos 4,7 milhões de TVs sintonizadas nessa porcaria. Numa média
de 3,3 pessoas por família, seriam 15,5 milhões de telespectadores. Obviamente
que nem TODOS estavam sentados no sofá assistindo o programa. O que é um alívio
deduzir!
O BBB é lixo por diversas razões. A principal, é o fato de
considerar-se entretenimento televisivo. Desprovido de qualquer conteúdo
cultural ou educativo e protegido pela ausência de um marco regulatório que o
obrigaria a ter alguma QUALIDADE, ancora-se em dois pilares principais: a
mesquinhez humana e a plástica das bundas e peitorais. Acrescenta ainda em seu
“tempero” o conceito de reality show interativo.
O que anula o BBB antes mesmo de começar a ser exibido, é a
seleção dos participantes. Só aí já são descartadas 99% das chances do programa
ser interessante. Na fauna dos milhares de inscritos, devem ter se destacado
dezenas de pessoas interessantes sob dezenas de aspectos mais relevantes que a
qualidade estética e intelectual (tsc!) dos 16 finalistas apresentados ao
grande público. Mas os filtros do programa são guiados por outros interesses.
Nada de pessoas “cabeça”. Porque os “cabeças” são chatos. Principalmente quando
não são editados. Feios? Nem pensar! Pessoas que fogem do modelo egocêntrico
imediatista; os que não cultuam suas silhuetas ocas e nem são consumistas
compulsivos de bens materiais; intelectuais, artistas enfim – todos estes foram
descartados na primeira varredura seletiva. Sobraram bundas, peitorais e alguma
extroversão básica pra não denunciar a estupidez crônica…
O nada. O vazio total de conteúdo – como minutos
intermináveis mostrando um casal dormindo na tela esbranquiçada pelo filtro
noturno da câmera; os diálogos e os desabafos suspirantes de problemática
banal; o desfile de mexericos, mesquinharia e vaidades chulas e até os
desbundes comportadinhos nas festinhas da casa – tudo isso, querem os diretores
do programa – é o máximo de inteligência que o Homer Simpson tupiniquim consegue
absorver. Se fizermos uma experiência, suprimindo as imagens, mantendo somente
o som dos diálogos, vamos ter a real dimensão de quanto besteirol a Globo
transmitiu durante os intermináveis três meses do programa. (E o mais surreal é
que a emissora vendeu “pacotes” para o público interessado em vigiar, 24 horas
por dia, “a casa mais vigiada do Brasil”! E se vende é porque tem freguês…)
Inacreditável ainda, é que toda a mídia, ou quase toda,
acompanhou esse show de baboseiras. Além das tradicionais publicações
fofoqueiras da vida de famosos das novelas globais, os principais portais da
Internet deram a matéria à exaustão. Pesquisas de opinião sobre esse ou aquele
brother, votações, fotos, vídeos, etc. O BBB esteve no mesmo nível de
hierarquia, nas manchetes, que estiveram os principais acontecimentos nacionais
e internacionais. Até as outras emissoras (!!!) dedicaram horas ao programa,
desfilando fotos e debates boateiros entre seus apresentadores. É bem provável
(por que não?) que esses programas tenham sido financiados pela própria Globo.
Enquanto o BBB recebeu
43 milhões de ligações em uma só noite, que renderam algo como R$ 20 milhões, o
Criança Esperança (2011) arrecadou R$ 10 milhões durante um mês inteiro!
Então, para o
telespectador, a baboseira de saradinhos e gostosinhas disputando R$ 1,5 milhão
na casa, vale mais que a solidariedade com crianças carentes. É claro que esse
tipo de público, tão facilmente seduzido pelo BBB, tem poder aquisitivo. Mas não tem obrigação de jogar suas
moedas para as crianças carentes. Por mais que o Renato Aragão se esforce em
agradá-lo. E olha que ao lado de Aragão desfilam artistas do primeiro escalão!
Mas o público prefere o fuxico mesquinho dos sarados anônimos ao lamento
desgraçado dos filhos que não são seus. E mesmo que sua consciência pese ao dar
dinheiro para a Rede Globo, tem o argumento irrefutável do “é meu e eu dou pra
quem eu quiser”. No que tem plena razão – já que sente que é papel do Estado, e
não seu, socorrer as vítimas da desigualdade social.
Os patrocinadores do BBB devem achar tudo uma grande bobagem.
Mas anunciam do mesmo jeito. Afinal, se tantos telespectadores sustentam a
audiência do programa, pouco importa para o anunciante o conteúdo. O que vale
mesmo é veicular seu anúncio em horário nobre. E isso quer dizer, em números,
algo como R$ 300 mil por uma inserção! Ou seja, num só intervalo do BBB a Globo
recebe facilmente R$ 3 milhões. Sem contar as dezenas de formas de faturamento
que o programa tem. Como por exemplo, os valores do merchandising nas “atividades
lúdicas” entre os brothers.
A máquina azeitada de vendas não tem limites. O brother,
eliminado ou não, tem contrato assinado com a Globo para diversas participações
na grade de programação e, ao que parece, está proibido de frequentar qualquer outra
emissora até data previamente estipulada. Mas a eliminação nem sempre
representa derrota. Ao menos para as mulheres. Selecionadas entre os inscritos,
muito mais pela bunda promi$$ora, saem da casa com um pé e entram com o outro
em estúdio fotográfico onde são “iniciadas” na carreira de modelo erótica.
Pelos números da audiência, pela repercussão na mídia, por
trocar a convivência e o diálogo familiares pela digestão passiva de um evento
tão medíocre, pela lei do menor esforço intelectual e pelo que virá, temos aqui
que fazer justiça: a Globo faz a sua parte. Mas o grande responsável pelo êxito
indiscutível do BBB é o telespectador. O sábio telespectador. Atencioso,
receptivo, herói incansável na busca pela “qualidade”; o telespectador que
deixa uma mensagem clara e definitiva: com a ajuda de todos os meios de
comunicação, cada vidiota tem a programação de TV que merece. (Mesmo tendo um
controle remoto à mão…)
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