Para
reanimar a economia brasileira, nada mais importante que baixar a taxa de juros
Para reanimar a
economia brasileira não existe nada mais importante do que baixar a taxa de
juros. É absolutamente natural o corte de 0,75 ponto da taxa básica, decidido
na reunião do Copom na segunda semana do mês de março. O Banco Central está
agindo prudentemente e com medidas corretas. A taxa real dos juros no Brasil
continua sendo a maior do mundo. Seu nível é extremamente prejudicial do ponto
de vista da eficiência do funcionamento do sistema econômico, adiando
investimentos e inibindo exportações dos setores mais dinâmicos da indústria,
graças à supervalorização do real.
Haverá sempre quem faça
críticas acenando com os riscos de uma recidiva da inflação (em 2013!), já que
mesmo os mais céticos se convenceram de que em 2012 ela está se comportando
como esperava o governo, na direção da meta de 4,5%. Existe um certo esforço de
bruxaria nesses ensaios, pois as conclusões dependem do modelo de análise que
os críticos estão usando, das relações que estão dentro desses modelos, da
qualidade das estimativas e das convicções dos analistas. Dependem, também, da
crença de que “o governo está morto”.
A hipótese é que “tudo
vai continuar como está”: o governo não vai agir, “já fez o que tinha de fazer”
e vai esperar de braços cruzados a inflação voltar, ou seja, a própria hipótese
nega a existência do governo. Só que o governo Dilma está vivo e mandando bem…
O Banco Central está muito mais “antenado” com a realidade econômica mundial do
que a maioria de seus críticos. Tem antecipado-se aos lances (alguns próximos
do desespero) das autoridades monetárias dos países desenvolvidos, que tentam
transferir para os parceiros emergentes os efeitos do sufoco financeiro que
eles próprios criaram.
O governo brasileiro
sabe que o problema europeu está longe de ser resolvido. E não tem ilusões
sobre as consequências da criação dessa gigantesca liquidez nos Estados Unidos
e na Europa, cujo objetivo é desvalorizar -suas moedas e melhorar a capacidade
de ampliar suas exportações. É isso que move essa competição entre o dólar e o
euro à qual, embora distante, não está alheia a China, porque sua moeda (o
yuan) já está grudada na americana. Paí-ses emergentes como o Brasil, com
instituições de melhor qualidade e que tenta se comportar de forma civilizada,
são as maiores vítimas da contrapartida que é a supervalorização de suas
moedas. No nosso caso, não podemos continuar subestimando os prejuízos causados
por um real sobrevalorizado ao setor industrial, um desequilíbrio permanente
que vem de longe.
Há outras causas para
esse desequilíbrio, como a alta tributação, a infraestrutura mal resolvida, a
burocracia e as taxas de juro abusivas, que todos conhecemos. O abandono mais
recente de investimentos e o aumento das dificuldades para vencer a competição
externa e no -próprio mercado interno têm como causa principal, no entanto, a
competição dos Estados Unidos, Europa e a própria -China ao desvalorizarem suas
moedas para explorar -mercados como o brasileiro. E lucrar com as oportunidades
de arbitragem financeira que a supervalorização do real oferece.
Há análises aqui e no
exterior (como a que inspirou o comentário da chanceler da Alemanha) que
pretendem que a indústria brasileira não sabe ser competitiva, e, por isso,
exige de seu governo medidas protecionistas. É natural que nosso setor
industrial tenha problemas de competição, como qualquer outra indústria no
mundo. Nós sabemos o que representa o “custo Brasil”, mas, na usina, a produtividade
da Volkswagen do Brasil é tão eficiente quanto a da Volkswagen na Alemanha.
Merkel sabe que a
infraestrutura alemã funciona bem, que seu sistema de assistência social é
muito eficiente e que o entendimento com os sindicatos trabalhistas tornou
possível manter os salários contidos em meio a crises. Com câmbio favorável
desde a introdução do euro e índices de produtividade do trabalho crescentes, a
Alemanha aumentou vigorosamente suas exportações, especialmente para os países
da Zona do Euro, consolidando a posição dominante que tem hoje na -Comunidade
-Econômica Europeia.
Não deixa de ser
-interessante discutir esses índices de produtividade industrial. O que está em
jogo, porém, são as condições -isonômicas que nenhum governo brasileiro deu, até
agora, à sua indústria.
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