Todos já devem ter lido
sobre o congresso organizado pelo Instituto Millenium em São Paulo, evento que
reuniu o que há de mais conservador e reacionário neste país. Este tipo de
frente única pró Golpe não é novidade no Brasil, no início dos anos sessenta se
organizou coisa parecida, capitaneada por aquilo que o grande historiador René
Armand Dreifuss chamou de complexo IPES-IBAD, uma frente de profissionais do
golpismo patrocinada pela CIA. A questão é que as forças realmente
democráticas, no início dos anos sessenta, demoraram muito para se dar conta
sobre o que significava de fato o sinistro complexo, e quando descobriu foi
tarde demais. Segue abaixo algumas informações que retirei do livro de
Dreifuss, 1964: A Conquista do Estado, recomendo a todos ler este minucioso
estudo.
Ditadura Nunca Mais!!!
O IBAD foi criado em
1959, mas só intensifica suas atividades a partir de 1962, era gerenciado
diretamente pela CIA, que o abastecia de forma generosa.
O IPES é fundado em
1961, por empresários do eixo Rio-São Paulo.
O IBAD atuava como
unidade tática e o IPES como unidade estratégica.
A partir do complexo
IPES-IBAD surge ADP (Associação Democrática Parlamentar), grupo que atuava no
congresso federal, e que tinha entre seus membros deputados e senadores da UDN
(praticamente todos dessa legenda), boa parte do PSD e mesmo alguns deputados
do PTB.
No âmbito estadual,
atuava a ADEP (Associação Democrática Estadual Parlamentar)
Os membros da ADP e da
ADEP recebiam fundos generosos do IPES-IBAD
O IPES se subdividia
em: Grupo de Levantamento e Conjuntura – GLC
Grupo de Assessoria
Parlamentar – GAP
Grupo de Opinião
Pública – GOP
Grupo de
Publicações/Editorial – GPE
Grupo de Estudo e
Doutrina – GED
Dentre as modalidades
de Ação do complexo estavam:
Ação Ideológica e
social
Doutrinação Geral
Guerra psicológica através do
rádio e televisão
Guerra psicológica através de
cartuns e filmes
Doutrinação específica
Seus alvos para
doutrinação eram: estudantes, artistas, donas de casa de classe média,
camponeses, operários, políticos, empresários, intelectuais, clérigos, etc.
Seus ativistas eram
contratados entre as elites brancas do país, sobretudo empresários.
A agência de
publicidade do complexo era a Promotion SA
Dentre os grupos
patrocinados estavam:
CCC- Comando de Caça
aos Comunistas
MAC – Movimento Anti
Comunista
AVB – Ação Vigilantes
do Brasil
GAP – Grupo de Ação
Patriótica, liderado por Aristóteles Drumond, hoje apresentador da Rede Vida,
canal católico.
CAMDE – Campanha da
Mulher Pela Democracia, do Rio.
UCF – União Cívica
Feminina, SP, grupo que organizou a Marcha da Família com Deus Pela Liberdade,
em 19 de março de 1964.
MSD - Movimento
Sindical Brasileiro, atuante no meio operário
O complexo IPES-IBAD
patrocinou livros, programas de rádio e TV, documentários.
Toda a mídia corporativa
brasileira se comprometeu com o projeto golpista do complexo.
Os institutos
anti-democráticos em questão recrutaram artistas e intelectuais como: Rubem
Fonseca, Raquel de Queiroz, Gilberto Freire, Jean Manzon (Canal 100), Manuel
Bandeira, etc.
Homens de negócios como: Júlio de Mesquita Filho, Alberto
Bighton Jr, Herbert Levy, Gastão Eduardo Bueno Filho, José Ermírio de Morais,
Heinning Boilenssen, etc.
Políticos como: Antonio Carlos Magalhães, Amaral Neto,
Gustavo Capanema, Plínio Salgado, Padre Arruda Câmara, Saturnino Braga, Mário
Covas, Cunha Bueno, etc.
O complexo IPES-IBAD
participou ativamente das eleições de 1962, financiando políticos alinhados com
suas propostas ideológicas.
Estes institutos estiveram
diretamente envolvidos no Golpe de 1964.
Após o Golpe, os
arquivos do IPES-IBAD foram fornecidos a Golbery do Couto e Silva e ajudariam a
formar o acervo de informações do SNI (Serviço Nacional de Informações)
O complexo exportou
seus conhecimentos para os demais países da América Latina, e seus congêneres
estiveram presentes em golpes na Bolívia, Chile, Uruguai e Argentina.
Do Blog do Cappacete.
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