Delúbio Soares (*)
Em “Conversa na Catedral”, uma das grandes
obras do escritor peruano Mário Vargas Llosa, o personagem Santiago Zavala
pergunta consternado “en que momento se jodió el Peru?”. A frase, mais que uma criação do celebrado
Prêmio Nobel de Literatura, acabou tornando-se emblemática em seu país,
sintetizando toda a amargura e indignação de seu povo diante dos descaminhos e
fracassos ao longo de sua história. Hoje, exatamente como os brasileiros,
nossos irmãos peruanos vivem uma das melhores fases de sua história,
desfrutando de uma economia ascendente e uma democracia sólida.
Longe da amargura de
indagar em que instante de nossa história o Brasil se afundou, é melhor
constatar em que momento o Brasil ganhou, superando o subdesenvolvimento,
vencendo mazelas seculares, diminuindo drasticamente a miséria no seio de nossa
população e ingressando no século 21 como uma das mais importantes potências
econômicas e sociais do nosso tempo.
Em
que momento o Brasil ganhou?
O Brasil virou o jogo e
passou de perdedor a ganhador, de fracassos repetidos à vitórias expressivas,
do fundo do poço para o centro das atenções mundiais, de humilhantes idas de
pires na mão aos balcões do FMI para credor do mesmo FMI, quando o presidente Lula
resolveu resgatar a imensa dívida social então existente. O Brasil virou o
placar num jogo onde estava perdendo havia séculos, enfrentando com destemor o
que muitos acreditavam ser nosso destino, mas Lula, sua equipe de governo e
seus companheiros do PT e dos partidos aliados sabiam ser apenas um desafio
enorme a ser vencido.
O Brasil, com Lula,
passou de país derrotado para país ganhador. Esse foi o momento em que o Brasil
emergiu do fundo do subdesenvolvimento, derrotou o conformismo, superou as dificuldades
de sempre, fez uma clara opção pela democracia lastreada na justiça social e na
redistribuição de renda. Esse foi o momento mágico em que nós superamos
adversidades e medos, além do terrível “complexo de vira-lata”, aquele que nos
fazia sentir pequenos, desimportantes e fracos diante do resto do mundo,
diminuídos por conta de certa inferioridade que só existia, mesmo, nos corações
e mentes de quem não arriscava sonhar com o país rico, grandioso e respeitado
que estamos conseguindo ser.
Estamos vivendo o menor
nível de desigualdade social de toda nossa história. Enquanto países ricos do
hemisfério norte experimentam momentos dificílimos nos dias de hoje, com
desemprego inédito e profunda recessão econômica, conseguimos retirar 40
milhões de brasileiros da pobreza (classes D e E) e realizar a extraordinária
inclusão de todos eles na classe média (a classe C). Trata-se da maior
mobilidade social já vista em toda a história recente da humanidade. O que os
teóricos da oposição sempre pregaram e jamais fizeram quando se encastelaram no
poder por décadas e governos a fio, Lula e Dilma conseguiram fazer em menos de
uma década.
A classe C continuou a
crescer e a consolidar-se no governo da presidenta Dilma Rousseff. Em 2011 a
participação desse estrato social no total da população brasileira foi de 54%,
segundo pesquisa realizada pela Cetelem, financeira do importante grupo
financeiro francês BNP Paribas, em parceria com o instituto IPSOS. Essa nova e
poderosa classe C recebeu mais 2,7 milhões de brasileiros no ano passado,
vindos das classes D e E. Hoje, 103 milhões de pessoas formam a classe média em
nosso país. E as classes D e E, desta forma, encolheram no ano passado,
representando 24% da população, num total de 45,2 milhões de brasileiros. Em
2010, eram 47,9 milhões de pessoas, ou 25% da população.
A pesquisa, que é
realizada desde 2005, nos revela que 63,7 milhões de brasileiros ascenderam
socialmente nos últimos sete anos. É o equivalente a toda a população da
Itália! E o grupo que mais contribuiu para essa evolução foi, justamente e não
por acaso, a classe C, que representava 34% da população em 2005, e hoje está
em 54%. Esses números eloquentes, irrespondíveis e insofismáveis, podem ser
traduzidos de forma simples: em sete anos os governos de Lula e Dilma retiraram
da pobreza e incluíram na sólida classe média brasileira, quase 64 milhões de
pessoas (uma Itália, duas Argentinas), que passaram a comer melhor, se vestir
melhor, morar melhor, compraram mais eletrodomésticos e bens duráveis,
adquiriram automóveis e motocicletas, viajaram mais, encheram aviões e hotéis,
ingressaram em escolas e universidades e mudaram definitivamente o rumo de
nossa história.
É um instituto de
pesquisas respeitadíssimo e um dos maiores grupos financeiros do mundo que
investigaram nosso quadro social, buscaram números e os divulgaram ao mundo.
Não é discurso de partido nem propaganda de governo. É, como costumava repetir
o General De Gaulle diante da realidade das situações consumadas, “Sua
Excelência, o fato”.
O Brasil de hoje é
aquele país pelo qual esperávamos. Apesar de tantos sofrimentos e revesses, aí
está ele, pulsando progresso e desenvolvimento, menos injusto e mais humano,
solidamente democrático e olhado com respeito pelo resto do mundo. O Brasil se
deu ao respeito e o resultado é o surgimento do país pelo qual sempre lutamos,
mais justo e feliz.
Ao contrário do célebre
personagem do mestre Vargas Llosa em sua desgostosa indagação diante de um país
que então se afundava, podemos afirmar que esse é o momento em que o Brasil
ganhou.
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