O Conversa Afiada reproduz texto do Movimento Levante Popular
da Juventude:
Jovens fazem atos contra torturadores e pela Comissão da
Verdade
Saímos às ruas hoje para resgatar a história do nosso povo e
do nosso país. Lembramos-nos da parte talvez mais sombria da história do
Brasil, e que parece ser propositadamente esquecida: a ditadura militar. Um
período onde jovens como nós, mulheres, homens, trabalhadores, estudantes,
foram proibidos de lutar por uma vida melhor, foram proibidos de sonhar. Foram
esmagados por uma ditadura que cruelmente perseguiu, prendeu, torturou e
exterminou toda uma geração que ousou se levantar.
Não deixaremos que a história seja omitida, apaziguada ou
relativizada por quem quer que seja. A
história dos que foram assassinados e torturados porque acreditavam ser
possível construir uma sociedade mais justa é também a nossa história. Nós
somos seu povo. A mesma força que matou
e torturou durante a ditadura hoje mata e tortura a juventude negra e pobre.
Não aceitamos que nos torturem, que nos silenciem, nem que enterrem nossa
memória. Não esqueceremos de toda a barbárie cometida.
Temos a disposição de contar a história dos que caíram e é
necessário expor e julgar aqueles que torturaram e assassinaram nosso povo e
nossos sonhos. Torturadores e apoiadores da ditadura militar: vocês não foram
absolvidos! Não podemos aceitar que vocês vivam suas vidas como se nada tivesse
acontecido enquanto, do nosso lado, o que resta são silêncio, saudades e a
loucura provocada pela tortura. Nós acreditamos na justiça e não temos medo de
denunciar os verdadeiros responsáveis por tanta dor e sofrimento.
Convidamos a juventude e toda a sociedade para se posicionar
em defesa da Comissão Nacional da Verdade e contra os torturadores, que hoje
denunciamos e que vivem escondidos e impunes e seguem ameaçando a liberdade do
povo. Até que todos os torturadores sejam julgados, não esqueceremos, nem
descansaremos.
ESCULACHO CONTRA
TORTURADOR EM BELO HORIZONTE
O Levante Popular da Juventude denunciou na manhã desta
segunda-feira (26) o torturador Ariovaldo da Hora e Silva. Cerca de 70 pessoas
participaram do esculacho em frente à residência do torturador Ariovaldo da
Hora e Silva, na rua Biagio Polizzi, 240, apto 302, bairro da Graça, Belo
Horizonte (MG).
Além de portarem faixas, cartazes e tambores, os
manifestantes distribuíram cópias de documentos oficiais do DOPS contendo
relatos das sessões de tortura com participação de Ariovaldo, para
conscientizar a população vizinha ao criminoso.
Ariovaldo foi investigador de polícia em exercício no
Departamento de Vigilância Social (ligado ao DOPS) durante o período da
ditadura militar, quando cometeu crimes contra a humanidade, em especial a
tortura de Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite, Cecílio Emigdio Saturnino
e Nilo Sérgio Menezes Macedo, entre outros.
A resposta da sociedade foi positiva à manifestação, segundo
o militante do Levante Popular da Juventude em Minas Gerais, Renan Santos.
“No meio das organizações de direitos humanos ele é uma
figura conhecida como torturador. Já foi denunciado outras vezes publicamente,
só que hoje em dia ele vive como se nada tivesse acontecido. Ele tem denúncias
de participação em assassinatos, intimidações e agressões físicas, por volta dos
anos de 1969 e 1970. Sobre isso nós temos denúncias relatadas”, afirma Renan.
Alguns vizinhos ficaram surpresos. “Não sabia que o Seu Ari
era um torturador. Tenho na família um caso de perseguido pela Ditadura e vou
divulgar isso”, afirma um morador da região. O denunciado estava em casa e pôde
ouvir e assistir à manifestação, tendo aparecido na janela por alguns segundos.
O Levante Popular da Juventude realiza simultaneamente em
várias capitais do país ações de denúncia de diversos torturadores, que continuam
impunes. Os manifestantes exigem a apuração da verdade sobre os crimes
cometidos pela ditadura militar.
QUEM É ARIOVALDO DA
HORA E SILVA
Ariovaldo da Hora e Silva foi investigador da Polícia
Federal, lotado na Delegacia de Vigilância Social como escrivão. Delegado da
Polícia Civil durante a ditadura, exerceu atividades no Departamento de Ordem
Política e Social (DOPS) entre 1969 e 1971, em Minas Gerais.
Ariovaldo consta na
obra Brasil Nunca Mais (Projeto A), acusado de envolvimento com a morte de João
Lucas Alves e de ter praticado tortura contra presos políticos
Foram vítimas dele Jaime de Almeida, Afonso Celso Lana Leite
e Nilo Sérgio Menezes Macedo, entre outros.
Na primeira comissão constituída para tratar do recolhimento
dos documentos do DOPS ao Arquivo Público Mineiro (APM), em 1991, ele foi
designado para representar a Secretaria da Segurança Pública do Estado de Minas
Gerais (SESP). Em 1998, foi Coordenador de Informações da Coordenação Geral de
Segurança (COSEG).
EM PORTO ALEGRE, ATO
CONTRA ACUSADO PELA JUSTIÇA ITALIANA
Em Porto Alegre, cerca de 100 jovens estiveram hoje às 9h da
manhã em frente à casa do Coronel Carlos Alberto Ponzi, ex-chefe do Serviço
Nacional de Informações de Porto Alegre e um dos 13 brasileiros acusados pela
Justiça Italiana pelo desaparecimento do militante político Lorenzo Ismael
Viñas em Uruguaina (RS), no ano de 1980, para exigir justiça.
A rua aparentemente tranquila mudou com a chegada da
juventude. Os muros antes brancos agora denunciavam: “Aqui em frente mora um
torturador!”. Os gritos de ordem, cartazes e cantos chamavam a atenção dos
vizinhos, que se amontoavam nas janelas para entender o que se passava. Durante
os 40 minutos de manifestação, quem transitou pela rua soube que naquele prédio
mora um torturador e que o povo está organizado para não deixar que seus crimes
caiam no esquecimento.
A atividade seguiu com distribuição de panfletos e conversa
no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
QUEM É CARLOS ALBERTO
PONZI
Carlos Alberto Ponzi chefiou em Porto Alegre o Serviço
Nacional de Informações (SNI), um dos braços da repressão do ditadura, que foi
criado em 13 de junho de 1964 para supervisionar e coordenar as atividades de
informações e contra-informações no Brasil e exterior.
A Justiça italiana abriu processo contra Carlos Alberto
Ponzi, sob a acusação de assassinato. A denúncia, aberta em dezembro de 2010,
abrange outros dez militares e civis brasileiros, que chefiaram unidades de
repressão política no governo João Baptista Figueiredo. Carlos Alberto Ponzi
não pode entrar em território italiano sob o risco de prisão pelo
desaparecimento em Uruguaiana (RS) do ítalo-argentino Lorenzo Viñas, no dia 26
de junho de 1980.
O caso está com o juiz Giancarlo Capaldo, que presidiu um
processo contra Pinochet pelo desaparecimento de cidadãos ítalo-chilenos em
Santiago. “Queremos chegar às responsabilidades individuais”, diz Giancarlo
Maniga, que representa as famílias das vítimas na Itália. “Eles desapareceram
na Operação Condor”, afirmou Claudia Allegrini, mulher de Viñas, que foi
subsecretária de Direitos Humanos da Argentina. As famílias de Viñas e
Campiglia acusam o governo brasileiro pela responsabilidade.
Em dezembro de 2007, a Justiça da Itália pediu a extradição
de Carlos Alberto Ponzi e mais 139 militares e policiais sul-americanos
envolvidos em sequestro, tortura e morte de pelo menos 25 militantes políticos
que foram alvo da Operação Condor e tinham cidadania italiana. Treze
brasileiros foram acusados de participar do desaparecimento dos ítalo-argentinos
Horacio Domingo Campiglia e Lorenzo Ismael Viñas. Dos 13, seis já morreram. Os
que ainda permanecem vivos podem prestar esclarecimentos ao Ministério Público.
O coronel Carlos Alberto Ponzi sofre também acusação pelo
desaparecimento de Viñas do Ministério Público Federal, que ajuizou
representações em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Uruguaiana (RS), pedindo a
abertura de inquérito contra ex-autoridades da ditadura militar acusadas de
assassinato e sequestro. As ações foram movidas pelos procuradores Eugênia
Augusta Fávero e Marlon Alberto Weichert.
EM SÃO PAULO,
MANIFESTAÇÃO CONTRA ENVOLVIDO NATORTURA DE IVAN SEIXAS E SEU PAI
Cerca de 150 jovens do Movimento Levante Popular da Juventude
realizam um protesto contra o torturador David dos Santos Araújo, o Capitão
“Lisboa”, em frente a sua empresa de segurança privada Dacala, na Zona Sul da
cidade de São Paulo, na Av. Vereador José Diniz, 3700.
Os manifestantes promovem um ato de escracho/esculacho contra
David dos Santos para denunciar suas ações enquanto torturador do Regime
Militar.
David dos Santos Araújo é assassino e torturador, de acordo
com Ação Civil Pública do Ministério Público Federal. A ação registra o seu
envolvimento na tortura e morte de Joaquim Alencar de Seixas. Em agosto de 2010,
o Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública pedindo o
afastamento imediato e a perda dos cargos e aposentadorias do delegado da
Polícia Civil paulista pela participação direta de atos de tortura, abuso
sexual, desaparecimento forçados e homicídios em serviço e nas dependências de
órgãos da União.
Araújo é delegado de Polícia Civil aposentado e dono da uma
empresa de segurança privada, a Dacala. Nas ações de repressão, no Destacamento
de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi),
utilizava o nome de “Capitão Lisboa”.
O livro Dossiê Ditadura – produzido pela Comissão de
Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos – tem o registro de que Joaquim
e seu filho, Ivan Seixas, foram presos em abril de 1971 e levados para o
(DOI-Codi), onde foram espancados. Na sala de interrogatório, foram torturados
um em frente ao outro.
Os assassinos de Joaquim Alencar de Seixas foram
identificados por seus familiares e companheiros como o então major Carlos
Alberto Brilhante Ustra, o capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, o delegado Davi
Araújo dos Santos, o investigador de polícia Pedro Mira Granziere e outros
conhecidos apenas por apelidos.
Em depoimento no Dossiê Ditadura, Ivan Seixas contou que na
sala de tortura foi pendurado no “pau de arara”, enquanto seu pai foi posto na
“cadeira do dragão”. Ambos foram torturados por uma equipe de umas cinco
pessoas, dos quais conseguiu identificar, entre outros, David dos Santos
Araújo.
O “Capitão Lisboa” também é acusado de abuso sexual, como
declarou Ieda Seixas, que em depoimento ao Ministério Público Federal disse que
foi prensada na parede por ele, que depois enfiou a mão dentro da sua roupa,
falando obscenidades e fazendo ameaças.
David dos Santos Araújo é portador de 111 armas em situação
ilegal, de acordo com investigação da Polícia Federal. A empresa de segurança
Osvil, de propriedade de Araújo, perdeu por irregularidades o alvará de
funcionamento como empresa de segurança que autorizava o registro de armas.
Com isso, as armas deveriam ser entregues à Polícia Federal.
No entanto, essas armas se encontram extraviadas. Depois de perder o alvará,
Araújo abriu uma nova empresa de segurança, chamada Dacala Segurança, que tem
como clientes o grupo Anhanguera Educacional, Banco Itaú, Ford, Jac Motors,
Banco Safra, Volkswagen, Banco Santander.
O processo da PF afirma que ao todo Araújo tem mais de
duzentas armas ilegais, além de um arsenal de oitocentas regularmente
registradas em nome da empresa Dacala, que é acusada também pelo emprego ilegal
de armas de fogo na atividade de segurança privada, de acordo com a Polícia
Civil.
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