O sistema capitalista
basicamente pode ser compreendido por aqueles (as) que vivem da venda da sua
força de trabalho e, ao mesmo tempo, por outros que possuem os meios de
produção, como por exemplo máquinas, equipamentos, móveis, imóveis etc.
Entretanto, aproximadamente nos últimos 40 anos, o capital portador de juros
vem se sobrepondo ao dito capital produtivo, de acordo com Marx, essa é a forma
acabada, mais aperfeiçoada do capital pois este se reproduz a si mesmo.
Pois bem. Imaginemos
agora um país tropical, rico, acolhedor e bonito por natureza. A estrutura
básica do sistema capitalista, conforme muito sinteticamente descrita acima,
nesse país não se modifica, embora, talvez, somente nesse país imaginário venha
a ocorrer algumas peculiaridades.
'A estrutura básica do
sistema capitalista nesse país não se modifica, embora, talvez, somente nesse
país imaginário venha a ocorrer algumas peculiaridades'. Foto: Cícero R. C.
Omena
Por ser um país
acolhedor e cordial recebe sem nenhum preconceito e pavor, árabes, judeus,
islâmicos, europeus, japoneses, chineses etc. É o país da paz. É o país da
cordialidade. Por possuir essa conotação local e internacional alguns
investidores e especuladores nacionais e internacionais, principalmente os mais
espertos e bons de lábia, aproveitam-se da benevolência e da boa vontade de
seus cidadãos e governantes e fazem desse país um eldorado pronto para
alavancar suas riquezas e ampliar suas heranças na maioria das vezes de forma
ilícita.
Nesse mesmo país, a cerca
de 40 anos atrás, chega um especulador, mas que se reivindica com todas as
letras, um investidor. Por ser jovem e ousado aplica sua herança em vários
empreendimentos, aquisição de terrenos, aplicação em bolsa e, de repente, se
torna acionista das duas maiores empresas nacionais desse país. Queiram ou não,
o mercado o respeita, pois esse investidor, agora o mercado não mais o
achincalha como especulador, cria riqueza sem passar pelas agruras do processo
produtivo.
Os governantes desse
país ficavam deslumbrados com esse investidor, convidavam para jantares em seus
palácios, pois ele não só ganhou dinheiro com seu trabalho, mas também
conheceu, conhece e é reconhecido por artistas, reis, príncipes, presidentes de
outras nações. Alguns governantes imaginavam que esse investidor pudesse ajudar
o país a ter seu reconhecimento internacional, por isso, o cortejavam
diuturnamente.
Mas, como tudo que é
sólido desmancha-se no ar, o lado especulador desse investidor falou mais alto,
começou a manipular dados do mercado financeiro daquele país, o jogo e as
apostas eram altíssimos, parecia estar jogando em seu próprio cassino e como
todo bom jogador seu sonho maior é quebrar a banca. E foi o que aconteceu.
Saiu do céu e foi
direto ao inferno sem intermediações pelo purgatório. Governantes, reis,
artistas e o mercado financeiro sequer o reconheciam. Não faliu completamente,
pois suas aplicações eram completamente diversificadas, mas a dívida era
enorme. Os investimentos que realizava em seus imóveis e terrenos foram rareando
até secarem e tornarem-se pendências judiciais.
Aliás, em um de seus
terrenos ocorreu uma ocupação de sem tetos, pois esse país nunca se preocupou
em realizar uma reforma urbana e fundiária que beneficiasse a maioria da
população, por uma razão muito simples, a lei do livre mercado é mais forte e
influente que a Constituição. E foi justamente nesse episódio que o capitalismo
mostrou a sua verdadeira face. De um lado, os sem tetos foram se organizando,
construindo sua comunidade, exigindo reformas, de outro; o terreno começaria a
ser disputado na justiça pelo especulador não para quitar suas dívidas, mas
para iniciar uma nova empreitada.
No sistema capitalista
genuíno, a segurança e a justiça são deveres do Estado, com o simples intuito;
garantir os contratos e a propriedade privada. Com base nesse pensamento, o
especulador utilizou-se de suas influências e foi em busca de justiça. Por
sorte, ou por acaso, ou por influência, o guardião da lei que recebeu seu
processo mandou cumprir as medidas cabíveis e necessárias, dentro dos ritos
legais e capitalistas, ou seja, expulsar os invasores do terreno. Cumpra-se a
lei! Para cumpri-la, nesse caso, é essencial a força, ou seja, recruta-se a
polícia, que é um órgão do Estado, preocupada sempre com a manutenção da ordem
e a execução da lei.
Quanto aos sem teto,
não é obrigação desse estado capitalista ajudá-las, pois não é da benevolência
e do beneficiamento à essas pessoas que se criará riqueza real. A riqueza se
dará com a criação de valor e, para isso, é essencial o trabalho.
Portanto, o especulador
deu a volta por cima novamente, pois o Estado e a justiça estão ao seu lado. Se
não bastasse isso, esse país possui uma mídia nativa, como afirma Mino Carta,
completamente serviçal e preocupada com os interesses privados, capitalistas e
não coletivos. E, em um belo dia, convida o megaespeculador para uma entrevista
a explicar e justificar a sua riqueza e, também, a colocar seus pontos de
vistas sobre o país que escolheu para viver e ganhar o seu labutado
dinheirinho. Pobre país!
Essa é apenas uma
estorinha para entender preliminarmente o funcionamento de um dos vários
pilares do sistema capitalista, portanto, qualquer semelhança com a realidade
brasileira, é mera coincidência.
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