segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A esquizoanálise de Aécio Neves


 “Com erros e acertos, o PSDB reafirmou sua posição de principal polo de oposição no país. O partido precisa agora entender o que disseram as urnas. Inclusive o recado dos milhões de brasileiros que preferiram não votar, descrentes da política.”

Com a pérola transcrita acima, Aécio conclui seu artigo segundeiro no jornal “Folha de São Paulo”. Ele, pela lavra de seu ghost writer, recua de sua posição anterior, na qual se jactava de ter sido o grande vencedor das eleições municipais de 2012. Claro que isso só se dava indiretamente, porque, para afirmar sua “vitória”, não poderia ele explicitar a derrota de seu principal adversário no PSDB.

A mancada agora é dizer que o PSDB “reafirmou” sua posição de “principal polo de oposição no país”. Ora, no plano partidário estava, por algum tipo de feitiçaria, ameaçada essa posição? Pelo DEM e pelo PPS, não. Até porque esses partidos são a escória que gravita em torno do PSDB e não ameaçam o tucanato. Pelo PCO, PSTU, PCB ou PSOL? Seria risível, se não fosse muito sem graça. Logo, o PSDB se manteve na condição de principal partido oposicionista, de fato. Só que mais fraco e mais confuso.

O resto de seu texto é a costumeira tentativa de isolar o PT de seus aliados, em meio ao discurso de que o resultado das eleições municipais representou um equilíbrio de forças. O que ele se esquece de dizer é que se trata de um equilíbrio de forças entre os partidos que compõem a base de sustentação da presidenta Dilma. E que o bloco privatista PSDB, DEM e PPS perde feio se comparado com seu desempenho em 2008.

Ou seja, Aécio – ainda que recue parcialmente – volta a repisar a tecla de que as derrotas petistas para partidos aliados nacionalmente à presidenta Dilma Rousseff se deveram ao apoio do PSDB ao PCdoB, ao PMDB, ao PSB e a outros partidos. Ou seja, seu comportamento parasitário é visto como decisivo em resultados eleitorais que, na verdade, já estavam decididos na virada do primeiro para ao segundo turno das eleições.

Lembremos aqui a ajuda voluntária, ou involuntária, que o julgamento da AP 470, o suspeito apagão elétrico no norte e no nordeste e os boatos sobre o cancelamento do ENEM tentaram dar à oposição no país. Não fosse o espetáculo midiático em que se transformou o julgamento do tal mensalão, a derrota de tucanos e tucanóides teria sido maior ainda.

Mas, além das incongruências de seu texto, temos aqui mais um caso de parasitagem de Aécio Neves. Ele agradece os 5,6 milhões de votos que o PSDB obteve no segundo turno. Ora, quase metade disso aí foi dado ao Serra, seu desafeto maior no PSDB. É muita cara de pau querer se apropriar do alheio, como se o alheio lhe pertencesse.

Finalmente, comentamos aqui a anedota lembrada no texto criticado: um senador dos EUA teria proposto que o governo de seu país declarasse unilateralmente a vitória no Vietnam e de lá retirasse suas tropas. Aécio age da mesma forma: baseado em que ele conclui que “os milhões de brasileiros que preferiram não votar”, assim o fizeram por “descrença” da política? Como pode ele decretar que a abstenção, que, aliás, não foi tão diferente assim da de 2008, se dê pela “descrença da política”? Ele transforma a tal abstenção em “descrença” da política em geral e não se propõe ao debate: por que o principal polo de oposição não atrai essa “descrença”?

Seu texto é um primor de “esquizoanálise”: do título (A verdade das urnas) ao último parágrafo, temos vários diagnósticos, com o uso de critérios aleatórios, para se concluir que o PSDB tem de “entender o que disseram as urnas”. Tem base?

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