por Emir Sader, no seu blog
Até 1930 a direita brasileira dispunha a seu bel prazer do
Estado, colocava-o totalmente a serviço dos interesses primário-exportadores,
desconhecendo as necessidades das classes populares. Getúlio fez a brusca
transição de um presidente – Washington Luiz, carioca adotado pela elite
paulista, como FHC – que afirmava que “Questão social é questão de polícia”,
para o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores pelo Estado.
Com o surgimento da primeira grande corrente de caráter
popular, a direita passou a ficar acuada. A democratização econômica e social
foi seguida da democratização política, com o processo eleitoral consagrando as
candidaturas com apoio popular. Sucessivamente, em 1945, 1950, 1955, a direita
foi derrotada e acostumou-se a bater na porta dos quartéis, pedindo golpe
militar.
Sentido-se esmagada pelas derrotas, a direita chegou a pregar
o voto qualitativo, em que, segundo eles, o voto de um médico ou de um
engenheiro valeria 10, enquanto o de um trabalhador (“marmiteiro”, diziam eles,
zombando dos trabalhadores que levavam marmitas pro trabalho) devia valer 1. Só
assim poderiam ganhar.
A efêmera vitória de 1960, com a renúncia do Jânio, foi
sucedida pela nova tentativa e golpe militar de 1961 e, logo depois, pelo golpe
efetivamente realizado em 1964. Só pela força e pelo regime de terror a direita
conseguiu triunfar e colocou em prática sua revanche contra o povo, pela repressão
e pela expropriação dos direitos da grande maioria.
Foi no final da ditadura, com uma votação indireta, pelo
Colégio Eleitoral, passando pela morte de Tancredo, que a direita deu
continuidade a seus governos, agora com um híbrido de ditadura e de democracia,
mas que favoreceu a eleição de Collor, outra versão da direita. Tal como Jânio,
teve presidência efêmera.
O governo FHC foi a melhor expressão da direita, renovada,
reciclada para a era neoliberal. Naqueles 8 anos a direita brasileira pode
realizar seu programa, que terminou numa profunda e prolongada recessão e a
derrota sucessiva da direita, por três vezes.
A direita repete, na Era Lula, os mesmos mecanismos da Era
Getúlio. Enquanto os governos desenvolvem políticas econômicas e sociais que
favorecem à grande maioria, recebem dela o apoio majoritário e derrotam
sistematicamente a direita, resta a esta atividades golpistas. Se antes batiam
às portas dos quartéis (eram chamadas de “vivandeiras de quartel”), agora usam
a mídia para bater às portas do Judiciário.
São partidos e mídias cada vez mais minoritários, derrotados
em 2002, em 2006, em 2010, voltaram a ser derrotadas agora em 2012. São
governos que os derrotam com o apoio das grandes maiorias beneficiárias das
suas políticas sociais. Quem não tem povo, apela para métodos golpistas, ontem
com os militares e a mídia, hoje com a mídia e o Judiciário.
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