Eduardo Guimarães
Os leitores deste Blog sabem muito bem o quanto
ridicularizaram “por aí” os avisos que venho dando há anos de que o golpismo a
la 1964 vem marchando no Brasil desde 2005, na melhor das hipóteses.
E não foram só os adversários políticos que fizeram pouco dos
meus avisos. Congêneres político-ideológicos também juravam que não haveria
“clima” para golpismo hoje em dia.
A minha premissa era – e continua sendo – muito simples: uma vez
golpista, sempre golpista. Ou seja: por que uma direita que até hoje defende o
golpe de 1964 e continua chamando a resistência a ele de “terrorismo” não
estaria “aberta” a novas aventuras daquele naipe?
Por muito menos do que os governos Lula e Dilma fizeram em
termos de distribuição de renda a direita midiática – que continua congregando
militares, “imprensa”, Judiciário e elites econômicas e étnicas – deu golpe há
48 anos.
E as coincidências não param por aí. Como bem lembrou em
artigo o colega de blogosfera Luiz Carlos Azenha, o presidente deposto Jango
Goulart desfrutava de alta popularidade quando Globo, Folha de São Paulo,
Estadão, empresários e militares deram o golpe.
Matéria da Folha de São Paulo de 2003 revelou que pesquisas
Ibope feitas às vésperas do golpe de 1964, e nunca divulgadas, mostravam que
Jango contava com amplo apoio popular ao ser deposto.
O Ibope dizia que 15% consideravam o governo Jango ótimo, 30%
bom e 24% regular. E, a exemplo de hoje, para míseros 16% era ruim ou péssimo.
Além disso, 49,8% dos pesquisados admitiam votar nele contra 41,8% que
rejeitavam a possibilidade.
Qualquer semelhança com o que está ocorrendo hoje não é mera
coincidência.
Por que são feitos golpes de Estado? Ora, porque quem golpeia
não tem perspectiva de chegar ao poder pelas urnas. Os golpes são a
radicalização contra a política.
Ou você acha que a mídia vendeu à toa a farsa de que a
abstenção nas últimas eleições cresceu muito? Cresceu coisa nenhuma. Em
verdade, deveu-se a cadastros desatualizados da Justiça Eleitoral que contam
até os mortos.
Foi preciso o Supremo Tribunal Federal jogar a Constituição
no lixo mandando políticos para a cadeia por “verossimilhança” das acusações
oposicionistas-midiáticas contra eles para que, ao menos entre a esquerda, praticamente
desaparecessem os que diziam que eu construía “teorias conspiratórias”.
Note-se que quando me refiro à esquerda não incluo partidos
como o PSOL, que teve dois de seus principais expoentes declarando apoio ao
político mais conservador e reacionário do país.
Plínio de Arruda Sampaio, candidato a presidente pelo PSOL em
2010, e Chico de Oliveira, sociólogo, fizeram juras de amor a José Serra e
praticamente se engajaram em sua campanha, além de serem bonecos de ventríloquo
da mídia.
Sim, psolistas ficaram ao lado do candidato que inventou o
“kit-gay” e que se agarrou nas barras das batinas e nas bíblias que pôde desde
2010 até hoje. Sem falar que disputam a tapa os favores do Partido da Imprensa
Golpista.
Não é à toa que a militância do PSOL nas redes sociais esteve
à frente até da ultradireita ao classificar meus avisos quanto ao golpismo como
“teorias conspiratórias”. E não é à toa que essa militância vem atuando no
sentido de criminalizar a política.
E para que criminalizar a política? Ora, porque se o povo não
sabe escolher políticos, o jeito é deixar alguma instituição escolhê-los e lhes
impor limites à atividade – ontem, foram os militares; hoje, é o Judiciário.
Vejam que o cronograma do golpe vai sendo seguido. Primeiro,
José Dirceu; agora, Lula; em breve, Dilma.
Ora, o STF e o Procurador-Geral da República deveriam ser os
primeiros a nem sequer considerar as supostas acusações de Marcos Valério
contra Lula. Ou será que eles ignoram que o ex-presidente os indicou sem tomar
o menor cuidado em saber suas posições políticas?
Pergunta: um político que estivesse “roubando” indicaria
pessoas “independentes” para cargos que lhes permitiriam pegá-lo no pulo?
Disse e repito: teorias conspiratórias só existem porque as
conspirações reais também existem. Como essa em curso. Tão clara que só não vê
quem não quer e que cada vez mais gente a enxerga.
—–
PS: em viagem de trabalho aos Andes, aproveitarei o que resta
do fim de semana para escalar um vulcão – a cavalo, porque, fumante que sou, a
pé não ando escalando nem escada. Uma boa alma irá cuidar dos comentários para
mim. Na volta leio tudo o que for comentado. Prometo.
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