segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Fatima Souza: Sobre os ataques a policiais em São Paulo

EXECUÇÕES DE POLICIAIS: TEMA VIROU ROTINA

por Fatima Souza, repórter policial

A execução foi no meio da rua, com tanta violência que as imagens causam medo e lágrimas. Os dois homens estavam de tocaia e quando o sargento Marcelo Fukuhara saiu para passear com seu cachorro, na calçada de um bairro em São Vicente, Litoral Sul de São Paulo, foi assassinado com tiros de fuzil e metralhadora. Uma imagem chocante, de verdadeiro terror.

A morte dele foi uma de uma série de ataque do PCC — Primeiro Comando da Capital — contra Policiais (em especial militares). Ataques que há dois anos estamos denunciando aqui no SPAGORA e que desde o início de janeiro de 2012 se intensificaram de uma forma covarde e sem medo. Os bandidos sequer se preocupam em colocar capuz: atacam de “cara limpa” mesmo, como se tivessem certeza da impunidade.

Nós, pasmos e assustados, assistimos a ataques e mais ataques…

Todos os dias tem um. Seja na cidade de São Paulo, Baixada Santista, ABCD ou Interior do Estado.

O PCC fez até uma lista de policiais marcados para morrer. É claro que além dos nomes listados pela facção,a ordem é também matar qualquer policial que estiver “dando sopa”, seja quando ele sai ou vai para o trabalho ou para casa.

Nos jornais impressos, nos sites da internet ou nas emissoras de TV o assunto já nem está na primeira página. É como se fosse “comum” policiais serem abatidos diariamente, tocaiados pelos bandidos que parecem nada temer.

Samuel Claudio da Silva é um tenente que trabalha na Casa Militar e encarregado da escolta do Governador Geraldo Alckmin. Já viajou, inclusive, para o Exterior, em viagens do representante do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Por isso, certamente foi um dos alvos. O tenente chegava a sua casa quando foi surpreendido pelo matador que atirou sem nada dizer. O tenente levou um tiro de raspão no rosto e revidou, acertando mortalmente o inimigo. Mas o saldo de mortes ainda é muito favorável aos bandidos.

O estatuto do PCC, em seu artigo 18, é claro: a ordem é matar policiais. O estatuto original foi até alterado para que os bandidos incluíssem nele a missão a seus integrantes.

Contabilidade da Morte

Do início do ano até 18 de Outubro de 2012, 81 policiais militares foram executados, morrendo nas mãos do PCC. Também morreram 16 agentes penitenciários e 4 policiais civis.

Policial Militar e Deputado Estadual, o Major Olimpio contabilizou também que 105 outros policiais militares foram atingidos pelos ataques e balas do PCC, e, felizmente, apesar de feridos, sobreviveram. E tem ainda dezenas de ataques contra bases policiais e viaturas.

Como resposta o Governo de Geraldo Alckmin nega que a facção PCC tenha qualquer relação com os bárbaros atentados. 101 trabalhadores da Segurança Pública estão mortos e ele tem a coragem (ou covardia?) de fazer política, dizendo que a culpa é do Governo Federal (a Dilma, portanto) que não cuida das “fronteiras” do Brasil por onde entram armas e drogas.

Em 1995 fui a primeira repórter a denunciar a existência desta perigosa facção, porém o Estado negou, me taxando de mentirosa. E pelo que eu saiba foi São Paulo que “abriu as fronteiras”, “exportado” o PCC para vários outros Estados brasileiros, quando o próprio Geraldo Alckmin, mandou vários chefes do PCC para cadeias de outros estados, ajudando a espalhar a facção e suas ideias e ideais.

De São Paulo o Primeiro Comando da Capital não foi só para a quase totalidade dos estados brasileiros, mas também cruzou as fronteiras do Uruguai, Paraguai, Argentina, Colômbia e também rumo ao México.

Não ouvi, em nenhum momento, o Geraldo lamentar as mortes e consolar as famílias destes que tombaram pelas balas do PCC. O que vi foi a lamentável notícia de que o estado se recusa a pagar o seguro de vida destes profissionais alegando que eles “morreram fora do horário de serviço”!

Senhor Governador eles morreram porque são policiais e o PCC está caçando policiais, de dia e de noite, e vencendo esta guerra.

Também sem cerimônias o Secretário da Segurança Pública de São Paulo, Ferreira Pinto, disse em coletiva a jornalistas, para quem quisesse ouvir que as execuções não são obra da facção criminosa.

 “A imprensa é que exalta esta facção… na realidade nós temos informações seguras… e eu posso dizer pelo nosso Serviço de Inteligência que não tem nenhuma vinculação ai com esta facção, que, alias, se fosse tão competente não estaria dentro de presídios”, disse o Senhor Secretário da Segurança…

E o que eu posso dizer é que esta facção domina totalmente as cadeias paulista a que o Secretário se refere…

Posso dizer que então, o “serviço de inteligência” dele é burro e que ou o Secretário está mentindo ou está sendo enganado por seus informantes.

Rasgo meu diploma de jornalista e queimo o livro que escrevi sobre a facção se os ataques não estiverem sendo liderados, ordenados e executados pelo PCC, Facção se que criou nas cadeias paulistas e foi “engordada” pela total anemia e falta de ação do Governo de São Paulo nos últimos 19 anos, que é o tempo que a facção existe.

Como disse o Major Olimpio, em protesto que reuniu 300 policiais na Praça da Sé no dia 16 de Outubro passado: “assistimos aos policiais serem dizimados e não adianta dizer que não existe, que é uma lenda, que não acontece. O PCC está matando policiais”.

Nesta mesma cerimônia, cruzes negras foram colocadas no chão em frente a Catedral da Sé, numa referência aos policiais assassinados, executados, mortos pelo PCC neste ano.

 Eu pergunto: quantas cruzes negras serão necessárias ainda para que o Estado admita a verdade?

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