Delúbio Soares (*)
O Brasil sofria do “complexo de vira-lata”, na definição dura
e objetiva do presidente Lula. Seria certo conformismo diante dos infortúnios e
das discriminações, além de notória baixa estima e sentimento de inferioridade
diante dos países ricos e poderosos. Sofremos muito por isso, especialmente na
economia e nas relações institucionais com as nações do chamado “mundo
desenvolvido”. A história começou a mudar de forma radical com a escolha do
primeiro presidente petista, em 2002, quando Lula subiu a rampa do Planalto e o
Brasil começou a subir no conceito mundial.
Houve um notório político baiano, entreguista conhecido, que
desempenhou as funções de embaixador do regime pós-64 em Washington. Tal era
seu comprometimento com os “primos ricos” e seu desapreço pelo país que o
sustentava em Washington, que chegou a cunhar a lastimável legenda de que “o
que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Ledo engano. Nem sempre
o é. Ou, melhor dizendo, os interesses do Brasil e de seu povo estão acima de
qualquer conveniência internacional ou de uma inaceitável subserviência aos
ditames de qualquer outro país. Aliás, desde 1822, é bom que se diga!
A forma altiva com que nos comportamos diante do concerto das
nações, a política externa independente e correta que tem sido conduzida pelo
Itamaraty e seus excelentes diplomatas, são a prova cabal de que o Brasil sabe
muito bem o que quer, o que lhe serve, qual o seu papel no novo cenário
internacional e, sem qualquer sombra de dúvida, o modo competente com que
assumimos o lugar que nos é destinado, por mérito e direito, dentre as grandes
potências econômicas e sociais do novo século.
Em 2008 o presidente Lula vislumbrou as verdadeiras
proporções da grave crise econômica norte-americana, antevendo sua pequena
repercussão por essas plagas. Quando pediu aos brasileiros que continuassem a
comprar, a consumir, a manter a cadeia produtiva de uma economia que havia se
recuperado da década perdida sob o neoliberalismo de FHC e dos tucanos, Lula
preservou nosso crescimento e deu o golpe fatal numa dependência ridícula e
desmoralizante. Estava extinto o complexo de vira-lata.
Muitas foram as demonstrações efetivas de que o Brasil estava
mudado e de que superáramos o subdesenvolvimento econômico e, também, o social.
Ao tirar da pobreza 40 milhões de irmãos nossos, o governo de Lula e de Dilma
resgatava evidente dívida social, injetava uma força extraordinária de produção
e de consumo na vida econômica, além de mudar a face de um país que angariou o
respeito e a admiração mundiais.
Agora, quando o Brasil é menos injusto e conquistou a sexta
colocação no ranking das maiores economias do Planeta, ultrapassando a poderosa
e lendária Inglaterra, estamos incomodando muito, disputando terreno, enfrentando
a concorrência de países produtores de alta tecnologia, de commodities
agrícolas e minerais, de indústria de ponta. O Brasil sem complexo de vira-lata
é um país vencedor, olhado com interesse e admiração, respeitado nos cinco
continentes. O “Made in Brazil” tornou-se um selo de qualidade, abre portas e
ganha mercados, decide concorrências internacionais e deixa poderosos
concorrentes à beira do caminho.
Por tudo isso, a decisão dos Estados Unidos em cancelar
(mesmo que apenas por enquanto) uma encomenda do avião Super Tucano pela USAF,
um campeão de vendas internacionais da nossa Embraer (a terceira maior
indústria aeronáutica do mundo, perdendo só para a Boeing e a Airbus), serve
para mostrar o jogo duro da concorrência e o quanto o Brasil já incomoda países
muito mais ricos. E, também, nos dá oportunidade de defender nossa bandeira, o
quanto somos capazes de concorrer em pé de igualdade com tradicionais e sólidas
economias, bem como reagir da forma dura e correta como o governo Dilma está
fazendo.
O Itamaraty, por ocasião da visita do subsecretário de Estado
norte-americano, William Burns, ao Brasil, cobrou dos Estados Unidos a postura
discriminatória adotada, com as constantes barreiras que são impostas aos
nossos produtos mais competitivos. Não é de hoje o protecionismo
norte-americano: os produtores agrícolas, de sapatos, de suco de laranja, de
software, dentre outros, sabem exatamente o quanto somos penalizados no
comércio bilateral. Ironia das ironias, os Estados Unidos se declaram o berço
da economia de mercado e das liberdades… Nem tanto.
A presidenta Dilma Rousseff, em muito boa hora, ordenou que
nossa diplomacia cobre dos EUA o tratamento equânime previsto no tratado
bilateral de cooperação econômica e comercial. Em outros tempos, antes de Dilma
e de Lula, o Brasil aceitava calado os disparates das grandes nações,
resignando-se à papel secundário ou desimportante. Tristes tempos. Hoje, nossa
soberania também se reflete no comércio internacional ativo, livre e fluído,
sem protecionismos ou reservas de mercado.
Nos aeroportos do mundo os jatos desenhados por nossos
projetistas, construído por nossos engenheiros e trabalhadores, disputam em pé
de igualdade com aeronaves norte-americanas e europeias. Nos portos dos cinco
continentes, nossa frota mercante desembarca a excelente produção “Made in
Brazil”. Sistemas de informação em Washington, em Joanesburgo ou em Pequim,
foram fabricados por empresas brasileiras e superam em muito seus competidores
do hemisfério norte. Nos mercados mundo afora, o Brasil fala alto e ganha
espaço crescente. Como no verso famoso de Assis Valente, “chegou a hora dessa
gente bronzeada mostrar seu valor!”.
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