Reproduzimos abaixo a
íntegra da entrevista que o jornalista e blogueiro Paulo Henrique
Amorim concedeu ao
boletim Classe, publicado pela CUT do Rio de Janeiro.
Classe: Nos fale um pouco sobre sua origem e sua trajetória
na imprensa brasileira.
Paulo Henrique Amorim
- Eu praticamente nasci como jornalista, no sentido de que o meu pai era
jornalista. Ele enfrentou a censura da ditadura Vargas e trabalhou com o então
jornalista Mário Martins, depois senador, e hoje conhecido como pai do Franklin
Martins, do Vítor e da Ana Maria Machado. Meu pai levava para a casa aquelas
folhas em que se desenhava o jornal. E eu praticamente me alfabetizei
preenchendo essas páginas de jornal que o meu pai levava. Aí quando eu fui para
a escola já estava praticamente alfabetizado.
Classe: Você é carioca de onde?
PHA - Sou carioca da Glória, mas me criei na Zona Norte.
Marechal Hermes, Vila Kosmos, Cascadura, naquela região ali.
Classe: Ao criar o blog Conversa Afiada, você chegou a imaginar
que ele faria o sucesso estrondoso que faz?
PHA - Não. O blog nasceu, na verdade, mais por uma
preocupação tecnológica minha. Eu sempre tive, como jornalista, desde o
comecinho, uma angustia que me perseguia, que era a necessidade de nunca me
deixar atrasar tecnologicamente. Eu sempre quis estar na tecnologia da frente.
Eu me lembro que ficava angustiado porque nunca tinha feito televisão. Depois,
fiquei angustiado porque não tinha feito internet. Eu não pretendia fazer um
blog necessariamente político, um blog necessariamente afiado. Eu sempre
acreditei que ser jornalista é ser repórter. Ser jornalista é dar informações
originais ou mostrar acontecimentos de um ângulo original. Sempre em busca de
oferecer informação, porque numa sociedade democrática a informação é um bem
precioso. Você permite que as pessoas com mais informação decidam melhor. Seja
como eleitor, seja como pai, seja como membro de uma comunidade, seja como
empreendedor, seja como consumidor, etc, etc.
Classe: Que balanço você faz do estágio atual da luta pela
democratização das comunicações no Brasil?
PHA - O estágio atual é de desalento. De desalento e
decepção. O presidente Lula governou debaixo de vara. A imprensa brasileira,
que no meu site eu chamo de PIG, tratou o Lula de uma forma vergonhosamente
parcial. E o Lula foi incapaz de tomar qualquer providência para criar os
mecanismos institucionais que permitissem oferecer ao público uma visão
alternativa do que estava acontecendo. Aos 44 do segundo tempo, Lula pediu ao
Franklin para fazer um projeto de lei. Ele deu apoio à Confecom, a Confecom
apresentou todas as ideias que seriam necessárias apresentar. O Franklin fez
uma série de seminários e reuniões para buscar, inclusive, o testemunho e o
reconhecimento de organizações internacionais que tratam da questão do marco
regulatório. Isso foi consubstanciado num projeto de lei, numa série de
propostas que o Franklin entregou educadamente ao seu sucessor, o Paulo
Bernardo, o que acho que o Franklin fez muito bem. O Paulo Bernardo fez críticas
deselegantes ao projeto, com palavras que a boa educação não recomendam.
Classe: A rigor, ele sentou em cima do projeto.
PHA - Ele sentou em cima e colocou debaixo dos projetos que o
Sérgio Motta fez para o Fernando Henrique. O Sérgio Motta fez três projetos de
marco regulatório da mídia, e o FHC jogou os três fora. Jogou fora não, botou
na gaveta. E debaixo desses três do Sérgio Motta, o Paulo Bernardo botou o do
Franklin. Eu acho que os primeiros sinais que a presidenta Dilma deu neste
sentido foram decepcionantes. A primeira coisa que ela fez foi ir ao
aniversário da Folha. A primeira coisa que o Lula fez em 2002 depois de eleito
foi ser co-âncora do Jornal Nacional em companhia do William Bonner e da Fátima
Bernardes. Ali eu disse : bom, a vaca foi para o brejo. Porque o Jornal
Nacional tratou o Lula de uma maneira parcial, sempre parcial, e a primeira
coisa que ele faz foi se sentir honrado em ancorar os Jornal Nacional ao lado
dos algozes.
Classe: Isso se deve a uma crença de que possível ter uma
convivência pacífica com a mídia ou é medo mesmo?
PHA - Eu acho que é medo. O Lula e a Dilma têm medo da Globo.
É só isso.
Classe: Têm mais medo da Globo do que da Folha, por exemplo?
PHA - Sim, Folha, Estadão e Veja são subadversários.
Classe: Medo exatamente de quê?
PHA - Têm medo de o Jornal Nacional derrubar o governo.
Porque as denúncias da Folha, do Estadão e da Veja não têm a menor repercussão,
a menor importância, se elas não tiverem a câmara de eco do Jornal Nacional. E
a câmara de eco do Jornal Nacional reproduz, aumenta, amplifica e dá mais
dimensão ao que acontece no Congresso. Nós temos o caso do ínclito e notável
senador Álvaro Dias, que é um plagiador. Como se sabe, ele não tem nenhuma
ideia original. Ele denuncia tudo que já foi denunciado. Então, eu acho que o
grave nessa posição não é que eles, Lula e Dilma, estejam apenas preservando o
seu governo. O problema aí não é preservar o governo Lula e Dilma, o problema
aí é criar os mecanismos institucionais para a democratização da mídia. O Boni
disse na entrevista que ele deu ao Geneton, na Globo News, que nenhuma
televisão no mundo tem o share de audiência que a Globo tem. Nenhuma. Em
nenhuma nova democracia do mundo, e eu não falo de Estados Unidos, Inglaterra,
Alemanha e França, estou falando de novas democracias como México, Portugal,
Espanha, Argentina, Chile e Uruguai. Em nenhuma nova democracia no mundo existe
o que existe aqui no Brasil com a Globo. E consolidada através de mecanismos,
como, por exemplo, a propriedade cruzada.
Classe: Paulo Henrique, há não muitos anos as pessoas
praticamente cruzavam os braços em relação ao poderio da mídia. Hoje muitas
pessoas e entidades debatem o tema, que culminou com a Confecom. Você acha que
podemos projetar um futuro melhor ou lutamos contra forças tão poderosas que
tudo isso pode não dar em coisa alguma?
PHA - Isso pode dar em alguma coisa. Hoje o constrangimento
do governo é maior. Você vê, por exemplo, que o PT fez um seminário para
estudar a questão da comunicação e o Paulo Bernardo fugiu.
Classe: Como fugiu do Encontro Internacional dos Blogueiros,
em Foz do Iguaçu?
PHA - Como fugiu de Foz do Iguaçu. Paulo Bernardo não vai. Ou
seja, o governo Dilma não tem condições de discutir com a sociedade a questão
da Ley de Medios. O PT não pode discutir a Ley de Medios. O PT não tem que
fazer seminário, o PT tem que governar. O PT é governo há oito anos, mais um,
nove. Quem faz seminário é oposição. Já tem a Confecom, já tem o projeto do
Franklin.
Classe: Mas o presidente do PT, Rui Falcão, disse que o
partido tem sua própria pauta, e que ela, em alguns momentos, é diferente da
pauta do governo.
PHA - Trololó, trololó. O PT não tem pauta diferente nenhuma.
O PT é governo. Quem tem outra pauta é o PSDB. Ou troca o Paulo Bernardo ou põe
o Paulo Bernardo para botar uma Ley de Medios no Congresso.
Classe: Ele tem dito que vai colocar o projeto do Franklin
para consulta pública na internet.
PHA - Ele está dizendo a mesma coisa desde que chegou. O fato
é o seguinte: o Paulo Bernardo não pode ir a uma reunião do PT. Ele não tem
autoridade moral e política para ir a uma reunião do PT. Isso é uma forma de
constrangimento importante para o governo. Eu entrevistei o Inácio Arruda,
senador do PCdoB. Ele fez um paralelo muito interessante. Quando o Adib Jatene
quis aprovar, no governo FHC, a CPMF, ele bateu na porta de todas as lideranças
do Congresso para pedir uma CPMF. E aprovou. E agora o governo tem que bater em
todas as portas para aprovar uma Ley de Medios, Agora, diz o Franklin : o ponto
de partida de qualquer Ley dos Medios é a Constituição brasileira de 1988.
Classe: Frankilin tem dito: vamos trabalhar com livrinho na
mão.
PHA - Isso. Vamos trabalhar com o livrinho na mão. O Inácio
Arruda lembrou que todas as correntes de opinião brasileiras estão entre os 81
senadores e os 513 deputados federais. Vamos botar todo mundo numa mesa, como
se faz num bom Congresso, e discutir. A bancada do coronelismo eletrônico tem
uma posição, eu tenho outra, o PT tem outra, os tucanos têm outra, e vamos
negociar. Agora , isso só chega se o governo tomar a iniciativa Qual é o medo
de mandar uma Ley de Medios para o Congresso? Sai da toca, vamos discutir no
Congresso. Esse trololó que tem aí de censura é papo furado. É como eu digo: em
dúvida, copia a lei americana, pois nos EUA é onde se pratica o capitalismo
mais selvagem.
Classe: Muita gente pergunta com um jornalista com as suas
posições conviveu na Rede Globo. Você chegou a ser cerceado ou pressionado?
PHA - Bom, minha posição na Globo foi a seguinte: eu fui
comentarista econômico durante algum tempo. Depois, na maior parte do meu tempo
na Globo, eu fiquei em Nova York, onde a minha relação ou a minha contraface
com as questões políticas nacionais era mais remota, era mais rara. Quando eu
trabalhei na Globo, eu fui absolutamente leal à Globo, não tem conversa. Eu fui
um funcionário exemplar. Evidentemente que na Globo havia uma restrição
política muito severa. Durante um certo tempo, a gente não podia falar, na
editoria de economia, que era o meu caso, não podia falar no nome do Maílson da
Nóbrega, ministro da Fazenda, porque o Roberto Marinho tinha uma operação com
exportação de casas pré-fabricadas que o Maílson vetou. Por causa disso o nome
Maílson da Nóbrega não podia ser citado. A gente podia falar do governo, mas
não podia falar em Ministério da Fazenda, nem em Mailson Nóbrega. O que é uma
coisa meio esquisita, mas, se você está trabalhando lá, das duas uma: ou cai
fora ou obedece. Quando eu percebi que a Globo pretendia me dar uma rasteira,
que foi quando eles me destituíram do cargo de chefe do escritório em Nova
York, aí eu fui procurar emprego e saí da Globo para ganhar o dobro do que eu
ganhava lá. Foi uma escolha profissional e também política. Porque, durante o
tempo que trabalhei na Globo, eu discordava de muitas das posições da Globo. E
trabalhava desconfortável e irritado, como, por exemplo, o dia em que o Jornal
Nacional fez aquela famosa edição do debate entre Lula e Collor. Eu conversei
com os editores do debate, com o Ronald Carvalho, que chegou lá na ilha e disse
o que era para ser feito para o editor Octávio Tostes. Aliás, o Octávio Tostes
teve muita coragem, foi ao Sindicato dos Jornalistas e, diante do Osvaldo
Maneschi, gravou um depoimento histórico em que relata esse episódio. Então, o
editor Ronald Carvalho chegou à ilha e disse para o Octávio Tostes: “ponha a
mão no nariz e meta a mão na merda: é tudo que tem de bom do Collor e tudo que
tem de mau do Lula.” O Alberico Souza Cruz, que veio de São Paulo para o Rio,
porque estava aqui em São Paulo a acompanhar o candidato Collor no debate,
chegou depois do almoço à TV Globo, entrou na ilha 7 e perguntou ao Tostes como
é que estava a coisa. O Tostes disse “olha , eu segui esta instrução do Ronald
e assim será feita a edição.” Aí o Alberico disse: “além disso, eu quero que
ponha também isso e aquilo.” Depois que a matéria ficou pronta, saiu da ilha 7
e foi para a ilha 10, uma ilha mais complexa, com mais recursos de edição, fora
do deadline de fechamento do Jornal Nacional, daí a grave importância que essa
matéria tinha. Aí o Alberico reviu a matéria na ilha 10 e aprovou como foi para
o ar.
Classe: E a edição do Jornal Hoje, da parte da tarde, foi
feita por quem?
PHA - Foi feita pela Vianey Pinheiro, o Pinheirinho. Foi uma
edição profissional, jornalística, correta, que era a que deveria ter sido
repetida, mas o pessoal do Collor visitou a Alice Maria depois da edição do
Hoje e disse que aquela edição não lhes interessava. E foi o que foi feito. E o
doutor Roberto Marinho deu ao Ronald essa informação. Essa informação que o
Ronald passou ao Octávio Tostes foi a informação que o doutor Roberto deu ao
Ronald : tudo de bom para o Collor e tudo de ruim para o Lula.
Classe: Então, foi essa a participação do Roberto Marinho?
PHA - Doutor Roberto dava as ordens. Ele não ia para a ilha.
O Alberico não sabia o que fazer numa ilha, não sabia dar um play numa ilha de
edição, mas ele sabia dar ordens. Então, a minha insatisfação política na Globo
sempre foi muito grande. Agora, como profissional, eu fui leal à Globo e me
orgulho disso. Como fui leal à Bandeirantes e sou leal à Record. Agora, isso
não impede que eu tenha as minhas posições políticas e quando me fazem essa
pergunta eu costumo dar a seguinte resposta : a diferença entre o trabalho
servil, o trabalho escravo, e o trabalho no regime capitalista, é que no
trabalho servil o dono é dono do empregado. No regime capitalista, o dono
contrata o empregado. O empregado dá a sua força de trabalho e recebe salário.
O empregador recebe a força de trabalho e paga o salário. Se um dos dois está
insatisfeito, rompe-se o contrato. Não existe a propriedade do empregado. Eu
não estava satisfeito e fui me embora.
Classe: Em que circunstância surgiu a sacada genial de
batizar o oligopólio da mídia de PIG (Partido da Imprensa Golpista)?
PHA - O Fernando Ferro, deputado federal pelo PT de
Pernambuco, o Ferrinho, um bravo deputado, fez um discurso da tribuna da Câmara
para denunciar uma denúncia vazia do Ali Kamel, que atribuiu a uma determinada
apostila do Ministério da Educação uma frase ou uma informação que não
constava, ou seja uma denúncia vazia, falsa. E o Fernando Ferro disse que o Ali
Kamel era um membro do Partido da Imprensa Golpista. E aí eu achei aquilo
genial e pá. Mas sempre digo que a ideia original é do Fernando Ferro.
Classe: Numa entrevista sua ao Pânico na TV, você explicou
didaticamente por que a Miriam Leitão nada entende de economia. Como é isso?
PHA - A Miriam Leitão é um embutido da Sadia. Se você pegar
as partes que compõem o embutido da Sadia, provavelmente você não consumirá. A
Miriam Leitão não tem nenhuma ideia original. Ela nunca ofereceu uma ideia
original. O que ela faz é embutir tudo na atividade dela na Globo. Agora, eu
digo também o seguinte: a Miriam não tem nenhuma importância. Embora ela seja a
mais importante pensadora neoliberal do Brasil, porque não há nenhum outro
pensador neoliberal no Brasil que defenda o neoliberalismo tanto quanto ela, o
que dá uma ideia do pensamento neoliberal no Brasil. O importante não é a
Miriam Leitão, porque ela é um embutido da Sadia. O importante é a Globo e o
importante é a Globo poder fazer o que faz através da Miriam, que é catequizar,
persuadir, doutrinar, convencer, invadir a sua privacidade utilizando um bem
público que é a TV aberta.
Classe: Os processos que movem contra você interferem no seu
cotidiano , na sua vida familiar? Como é lidar pessoalmente com isso. Eles te
aborrecem muito?
PHA - Olha, já me aborreceu mais. Hoje eu olho para isso com
mais distância. Hoje já vejo isso com certo humor. Mas a vingança será pesada.
Eu pretendo depois transformar isso tudo em livro e defender a tese de que eu,
como Azenha, como Rodrigo Viana, como Nassif, como Esmael do Paraná, e uma
série de blogueiros do interior do Brasil, estamos sendo vítimas de um processo
que nada mais é do que uma tentativa de nos calar pelo bolso. Essas ações
todas, no meu caso são 41 ações, não resistem a uma análise superficial. O
Daniel Dantas, por exemplo, move 13 ações contra mim, e ele perde.
Classe: Cíveis e criminais?
PHA – Não, ele não entrou no crime porque ele não é bobo. Ele
é mais esperto que os outros. Ele sabe que no crime é mais difícil ganhar. O
que ele faz? Ele não ganha no mérito, quando ele ganha é na chicana. Quando ele
ganha é na regra do jogo. Entendeu? Aí você tem que ir numa outra instância
para refazer a regra, a regra como ela efetivamente é. É assim que ele
trabalha. O Dantas nunca ganha no mérito. Ele diz que as provas são falsas, no
caso da Satiagraha; ele não deixa trazer para o Brasil as derrotas que ele
sofreu na justiça britânica; ele mata a Chacal, devolveu a Operação Chacal para
a primeira instância e logo, logo prescreve; não deixa abrir os discos dele,
faz com que o Eros Grau sente em cima dos discos; ele não deixa julgar, se
julgar, ele está ferrado. Se julgar, ele vai em cana, como fez o De Sanctis,
que colocou ele duas vezes em cana. Mas eles me enobrecem. É aquele meu ditado
“diz-me quem te processas e te direi quem és”. Eu sou processado pelo Daniel
Dantas, Gilmar Mendes, Eduardo Cunha, Naji Nahas, Ali Kamel, pelo Heraldo
Pereira (que diz que sou racista, eu sou racista!), o Carlos Jereissati, o
Sérgio Andrade. É esse elenco que me processa. E disse me orgulho. Quando o meu
neto tiver um pouquinho mais de discernimento, eu vou dizer: “ seu avô é um uma
cara muito legal, olha quem processa ele.” Então, qual é o objetivo deles? É me
calar pelo bolso, não é calar com uma condenação. Ah, o Heráclito Fortes me
processa três vezes, o Heráclito Fortes , o Apolo da bancada Dantas, o homem
que defendia o Dantas da tribuna do Senado e que dizia frases como “prefiro
Dantas ao Delúbio”.Isso é um Varão de Plutarco. Cícero não foi tão brilhante.
Muito bem, querem me calar pelo bolso, mas não vão calar.
Classe: Falando um pouco mais de política, você não acha que
a Dilma caiu na armadilha de demitir uma série de ministros pautada pela mídia?
PHA - Acho que ela faz muito bem. Acho correta a tese dela, a
política dela. Localizou o malfeito, dança. Está certo. O meu problema com esta
mídia que denuncia corrupção não é a denúncia da corrupção. O problema é o
caráter político dessa denúncia. Agora, nós estamos diante de um fato
brutalmente suspeito; uma empresa chamada Controlar tinha o monopólio de fazer
o controle da poluição por parte dos automóveis de São Paulo e descobriu-se que
isso era uma patranha. Essa patranha levou à prisão de um cavaleiro de nome
João Faustino, que era, ou é, suplente do senador Agripino Maia e durante anos
a fio trabalhou no gabinete do chefe da Casa Civil do Serra, o senador Aloísio
Nunes, exercendo a tarefa que não se sabe bem qual é. Muito bem, o João
Faustino diz que tem uma relação antiga com o Serra e com o Fernando Henrique,
isso da própria boca dele. E colocaram indisponíveis os bens do Kassab graças
ao Serra. Ele foi vice do Serra. O João Faustino trabalhou com Serra.
Classe: Coordenou a
campanha do Serra no Nordeste.
PHA - Isso, coordenou a campanha do Serra no Nordeste. Queria
que o ínclito e brilhante senador Jarbas Vasconcelos fosse vice do Serra. Deu
entrevista dizendo isso. E o Serra ? Ele, agora dá conferência sobre juros e
foge da imprensa pela porta dos fundos. O Serra foge da imprensa e o Paulo
Bernardo foge do PT.
Classe: Como você vê esta obsessão do Serra de ainda sair
candidato a presidente. Há uma especulação de que ele pode sair candidato pegando
uma carona no PSD do Kassab, caso o Aécio seja o candidato pelo PSD.
PHA - É um patologia. O Mercadante tem uma teoria muito
interessante que é a do mergulho para frente. Toda vez que o Serra se vê numa
situação de ser julgado pelo que fez, ele dá um pulo para frente. Agora, por
exemplo, em lugar de ser julgado pela campanha que ele fez em 2010, que segundo
Ciro Gomes, foi uma campanha calhorda, a campanha da bolinha de papel, a
campanha do aborto, a campanha do fundamentalismo, a campanha do bispo de
Guarulhos, a campanha de entregar o pré-sal para a Chevron, a campanha de
querer invadir a Bolívia, a campanha de acabar com o Mercosul. Em vez de
discutir essa campanha, ele é candidato em 2014. Ele não tem alternativa. Mas o
Vesgo do Pânico tem mais chance de ser presidente da República que o Serra.
Classe: Que nota você daria hoje, no conjunto, para o governo
da Dilma?
PHA - Acho que ela está indo muito bem, muito bem. Eu lamento
que ela tenha esta atitude em relação ao marco regulatório, que eu prefiro
chamar de Ley de Medios, e faço isso propositadamente porque nós temos a
pretensão de nos rivalizarmos com a Argentina, o que não é o meu caso que
admiro muito a Argentina.É para deixar claro que a Argentina tem uma Ley de
Medios muito boa, muito boa. E foi tirada na marra. As pessoas foram para a rua
pedir a Lei de Medios. E Globo de lá, o Clarin, trabalhava com o mesmo Ibope
daqui. E a Cristina meteu a mão na Globo e no Ibope.
Classe: E fez campanha de massa, no dia da entrega do projeto
ao Congresso argentino, ela levou 50 mil pessoas com ela.
PHA - Exatamente. E não deu entrevista para a Globo. Se
elegeu duas vezes sem dar entrevista para a Globo. E a Dilma se submete àquelas
perguntas capciosas do William Bonner e da Fátima Bernardes.
Classe: Mas, fora a questão da comunicação, por que você acha
que a Dilma vai muito bem? Seria por que ela dá continuidade à obra do Lula?
PHA - Ela continua a obra do Lula e está dando alguns saltos
à frente, como esse programa de Brasil sem Miséria, esse programa de
fortalecimentos das pequenas e médias empresas. Acho quer ela tem dado saltos
importantes na política de saúde e na política de educação. Na condução da
política econômica também, porque ela tirou o monopólio dos neoliberais do
Banco Central. Os neoliberais comandavam o Banco Central desde o governo
Sarney.
Classe: O Alexandre Tombini, atual presidente do Banco
Central, não é um neoliberal?
PHA - O Tombini não é neoliberal e tem uma vantagem: ele não
dá entrevista em off para a Míriam Leitão.
Classe: Falando sobre a doença do ex-presidente Lula,
comentários como o da Lúcia Hipólito, na rádio CBN, logo no dia da divulgação
do problema, soltando foguete e colocando Lula fora do jogo político, não chega
a ser indecente, uma falta de respeito ao drama alheio?
PHA - Eu não ouvi o comentário da Lúcia Hipólito. O que eu
posso te dizer é o seguinte: O PIG foi fazer o enterro do Lula. O PIG convocou
o enterro do Lula. Foi para a capela do cemitério da Consolação para enterrar o
Lula. O meu problema com a doença do Lula é com o Hospital Sírio e Libanês. Por
que saem notícias sigilosas e confidenciaissobre o estado de saúde dos
pacientes do Sírio e Libanês na Folha e na TV Globo? Eu sou paciente do Sírio e
Libanês. Fiz uma cirurgia lá. Tirei uma hérnia de disco lá. Eu quero saber e,
aliás, mandei um e-mail agora para o Sírio e Libanês para saber se as
informações sobre a minha cirurgia serão
tão públicas como o tratamento do Lula. Se forem, eu quero
tomar as medidas judiciais para processar o Sírio.
Classe: Para o jornalista Paulo Henrique Amorim, o que foi o
mensalão?
PHA - O mensalão foi uma operação de caixa dois de campanha
que é tão brasileira quanto goiabada com queijo. Caixa dois. Todo mundo sabe
disso. Mensalão é senha para você entrar no site do impeachment do Lula.
Classe: A versão que passaram era a de que existia uma
espécie de guichê no qual os parlamentares recebiam pelos serviços prestados ao
governo nas votações do Congresso?
PHA - É, inclusive os que votavam com o governo. Era preciso
comprar os parlamentares que votavam sistematicamente com o governo. É um
negócio sensacional. É um negócio de português, desculpe. Eu, como neto de
português, posso dizer isso com toda autoridade. É um mensalão português. Um
mensalão patrício. Como diz o Mino Carta, o mensalão está por provar-se. Eu
quero ver o Supremo provar o mensalão. E tem mais: eu quero ver provar a culpa
do José Dirceu. É que no Brasil não se faz a seguinte pergunta: de onde vem o
dinheiro do mensalão? Vêm do Daniel Dantas. Ninguém pergunta: quem botava
dinheiro no duto do mensalão? Era o Dantas, isso está comprovado. Os documentos
da Brasil Telecom encaminhados à CVM mostram o dinheiro que a Brasil Telecom,
no tempo do Dantas, dava para o Marcos Valério. O Marcos Valério fazia um
estudo sobre a imagem da Brasil Telecom e ganhava um trilhão de dólares para
fazer isso. Alguém aqui é bobo?
Classe: Na sua opinião, então, se o Supremo julgar pela prova
dos autos, absolve todo mundo?
PHA - Eu acho que absolve muita gente, inclusive o José
Dirceu. Mas o problema é que o Supremo costuma votar com a faca no pescoço. É o
único Supremo no mundo que vota com a faca no pescoço. Eu não conheço outro
caso igual.
Classe: Dê alguns exemplos?
PHA - Ué, um ministro do Supremo disse que votou, no caso do
mensalão, porque estava com a faca no pescoço. Quem empunhava a faca, a faca de
Brutos? Era o Ali Kamel.
Classe: A que você atribui o bom trânsito que o Dantas tinha
com os governo de FHC e manteve nas eras Lula e Dilma?
PHA - É porque o Dantas corrompeu o Brasil. O Dantas comprou
o Brasil. Executivo, Legislativo e Judiciário. E imprensa. Os quatro poderes.
Comprou tudo. E, no caso da imprensa, ele teve um plano de negócio
originalíssimo. Ela comprava dono e o jornalista, porque normalmente os
corruptores da imprensa compram um ou outro. Ele comprava os dois.
Classe: O ministro da Justiça atual tem alguma ligação com
ele?
PHA - Sim, ele trabalhou para o Dantas. O José Eduardo
Cardoso é assalariado do Dantas.
Classe: O advogado Greenhalg também?
PHA - Greenhalg também O Jose Eduardo Cardoso, como deputado
federal , representante do povo de São Paulo, foi à Itália defender os
interesses do Dantas. E aqui no Brasil tentou ajudar o Dantas no Ministério
Público Federal. Ele é funcionário do Dantas.
Classe: Existe por parte da mídia uma clara intenção de
criminalizar os movimentos sociais. Na democracia que vai se consolidando no
Brasil, qual deve ser o papel desses movimentos?
PHA - Acho que esses movimentos têm um papel muito
importante. Mas eu vou te falar o seguinte: eu acho muito legal movimento
social em defesa do meio ambiente, em defesa da mulheres, em defesa do
casamento gay. Eu sou a favor disso tudo. Eu sou a favor do meio ambiente,
tenho aqui na minha casa uma micro reprodução dos Jardins do Burle Max. Sou a
favor do casamento gay. Acho o machismo um absurdo. Tudo isso está certo.
Agora, a oposição no Brasil gastou muita munição com essas causas secundárias.
Subalternas em relação ao problema da injustiça social.
Classe: A que oposição você se refere?
PHA - Eu quero dizer o seguinte : os que protestam , os
inconformados, os indignados, os ativistas sociais defendem causas que são
comoventes e enaltecedoras e espero sejam bem–sucedidos. Não no caso de Belo
Monte, que eu acho que é nada mais, nada menos que uma ponta de lança dos
interesses americanos no Brasil. Ponto. Mas eu acho que mais importante do que
tudo, na minha opinião, é a questão da injustiça social. Esta sociedade, apesar
da inclusão de 40 milhões de pessoas na classe média, apesar da ascensão social
do pobre, apenas dos programas Brasil sem Miséria, é uma sociedade injusta. É
uma sociedade cruel, é uma sociedade que não tem democracia, é uma
subdemocracia. Esse é o assunto que me interessa. Negócio de meio ambiente e
tal, eu acho tudo muito bom, sou a favor do meio ambiente. Mas não gasto cinco
minutos do meu tempo preocupado com isso. Não gasto. Eu acho que estas redes
sociais são muito úteis, mas não vão mudar o mundo, não vão mudar ro Brasil,
enquanto não enfrentarem de frente o problema da desigualdade.
Classe: Qual o destino dos jornais impressos no Brasil? Na
sua opinião, eles caminham para o fim?
PHA – Acho que caminham para uma espécie de fim. Ele vai ser
um produto de menos importância. Um produto de nicho. Assim como as revistas
hoje são revistas de nicho, os jornais serão jornais de nicho. Tem mais chance
de sobreviverem jornais de comunidade. Os dedicados à economia, como Valor,
Financial Times, Wall Street Journal têm mais chances de sobreviverem do que a
Folha. E o problema não e só de tecnologia. Não é só porque hoje existe uma
tecnologia melhor do que a do jornal impresso. O problema é que os jornais
brasileiros são muito ruins.O jornais brasileiros são péssimos. Não dá para
ler, são mal escritos, não têm imaginação, são medíocres, são incompletos. Além
de parciais.
Classe: Qual a sua opinião sobre a polêmica do diploma para
jornalista?
PHA - Ah, eu sou contra. Sou inteiramente contra o diploma de
jornalista. Isso é uma racionalização para um negócio de faculdades privadas.
Não é preciso ter diploma para ser jornalista. Você pode ser jornalista com
três meses de treinamento numa boa Pronatec. Com três meses na Pronatec, você
faz um jornalista de boa qualidade. Agora, você precisa, de preferência, ter
jornalistas com curso universitário. Pode estudar filosofia, matemática,
física, biologia, literatura portuguesa.Isso tudo ajuda.Agora, o jornalista
precisa respeitar os fatos. Como diz o Mino Carta, a verdade factual. Deve
tentar também, o máximo possível, ser objetivo, até onde é possível ter alguma objetividade,
ou seja, tentar a imparcialidade. Mas, sobretudo, o jornalista deve fustigar os
poderosos.
Postado por Cloaca News
Nenhum comentário:
Postar um comentário