Para a presidenta, a injeção
irresponsável de dinheiro na economia mundial prejudica países emergentes, como
o Brasil, tornando suas indústrias menos competitivas. Dilma Rousseff prometeu
a criação de novos mecanismos para impedir o que classificou como
“canibalização dos mercados emergentes”. Segundo Dilma, só os países da
comunidade européia despejaram no mercado internacional, até hoje, US$ 4,7
trilhões de dólares, o que considerou uma política monetária “absolutamente
inconseqüente”
Najla Passos
Brasília - A presidenta Dilma
Rousseff criticou, nesta quinta (1), a política cambial adotada pelos países
desenvolvidos que, para tentar driblar a crise em que estão metidos, injetam
dinheiro na economia mundial de forma irresponsável.
Para a presidenta, a alta emissão
de moeda, nos moldes que vem sendo praticada por países da Europa e pelo Japão,
provoca o que ela chamou de “tsunami monetário” nos mercados emergentes, como é
o caso do Brasil, prejudicando a competitividade das indústrias nacionais.
“Nós vamos continuar
desenvolvendo este país, defendendo a sua indústria e impedindo que os métodos
de saída da crise dos países desenvolvidos impliquem na canibalização dos
mercados emergentes”, afirmou.
Segundo Dilma, só os países da
comunidade européia despejaram no mercado internacional, até hoje, US$ 4,7
trilhões de dólares, o que ela disse considerar uma política monetária
“absolutamente inconseqüente” do ponto de vista do que ela produz sobre os
mercados internacionais.
E, ao discursar para os
empresários e sindicalistas que participavam de uma cerimônia no Palácio do
Planalto, prometeu providências, que poderão resultar em novos ajustes na
política cambial brasileira. “Nós teremos que criar outros mecanismos de
combate aos processos que vão ser desencadeados por esses US$ 4,7 trilhões”,
afirmou.
A presidenta, entretanto,
descartou a possibilidade de adotar uma política que provoque a desvalorização
do real. Ela garantiu que o Brasil irá continuar apostando no crescimento
econômico associado à redução da pobreza e ao combate à desigualdade.
“Hoje as condições de
concorrência são adversas, não porque a indústria brasileira não seja
produtiva, não porque o trabalhador brasileiro não seja produtivo, mas porque
tem uma guerra cambial, baseada numa política monetária expansionista, que cria
condições desiguais de competição”, justificou.
Ela disse também ter consciência
de que, para que o Brasil continue a crescer com bases sociais, será preciso
acelerar a economia. “Nós estamos trabalhando para que a taxa de investimentos
no Brasil cresça e ultrapasse, pela primeira vez na década, os 20% do PIB”.
Para a presidenta, se o país
quisesse apenas criar mais empregos, era só conseguir que a taxa do Produto
Interno Bruto (PIB) fosse maior do que a taxa de crescimento da população. “Mas
não é isso que nem os trabalhadores, nem os empresários e, muito menos, o
governo quer. Nós queremos também que a distribuição de riquezas no Brasil se
dê de forma constante. E aí, sim, nós seremos uma sociedade desenvolvida”.
As críticas da presidenta aos
países desenvolvidos foram muito bem recebidas pelos sindicalistas que,
momentos antes, cobraram, reiteradamente, a redução imediata dos juros e a
taxação do capital especulativo.
“Nós precisamos discutir a crise
da desindustrialização, que é grave, é rápida e nós precisamos dar respostas.
As indústrias estão passando dificuldades e os trabalhadores estão perdendo
seus empregos. Por que não taxar os especuladores internacionais que vêm aqui
só ganhar dinheiro?”, questionou o presidente da Força Sindical, deputado Paulo
Pereira da Silva (PDT-SP).
O presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, também defendeu a taxação do capital
especulativo e cobrou, ainda, a redução dos juros. “Nós precisamos cuidar do
câmbio para garantir que os recursos venham para o país, mas para a geração de
empregos e crescimento, e não para a especulação financeira”.
Segundo ele, as máquinas dos
bancos centrais dos países europeus estão rodando dinheiro sem parar. “Com as
altas taxas de juros praticadas no Brasil, é aqui que eles vão querer despejar
esse dinheiro todo, desestabilizando nossa economia”.
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