O ex-prefeito chegou tarde para disputar as prévias do PSDB,
conseguiu adiá-las e pode ser o candidato referendado por bases que reclamam
fundamentalmente do fato de que, sob o seu domínio, não tiveram nem vez, nem
voz no partido.
Maria Inês Nassif
José Serra chegou tarde na disputa pela legenda do PSDB à
prefeitura paulistana: antes de declarar suas intenções, foram sete meses de
disputa interna entre os quatro pré-candidatos tucanos (José Anibal, Bruno
Covas, Ricardo Tripoli e Andrea Matarazzo), que percorreram os 48 diretórios
zonais da capital e fizeram debates regulares com filiados do partido. Mesmo
que vença a disputa com os candidatos que sobraram – Bruno Covas e Andrea
Matarazzo abriram mão de suas candidaturas em favor de Serra –, o ex-prefeito
terá de lidar com bases políticas que, pela tradição tucana pós-Covas, estavam
alijadas até agora das decisões partidárias, e pela primeira vez na última
década foram chamadas a debater e decidir uma candidatura.
Os relatos dos efeitos da disputa interna sobre uma base até
então desmotivada são unânimes em
apontar que as prévias foram um sopro de vida num partido altamente
hierarquizado e sem vida interna fora dos seus quadros institucionais. Da
participação da militância, tucanos levaram também a informação de que há um
desconforto explícito com o distanciamento de Serra. O cacique tucano esteve no
centro da política tucana paulista praticamente por toda a última década , mas
trabalhou em isolamento completo em relação ao partido. À sua volta, formou-se
um partido paralelo, o dos “serristas”, que sempre se sobrepôs e manobrou as
decisões do PSDB.
O primeiro vice-presidente municipal, João Câmara, um dos que
se revoltaram com as manobras feitas pelo grupo serrista na reunião da Executiva,
segunda-feira, que conseguiram o adiamento da consulta, do dia 4 para o dia 25
de março, acha que Serra é a personificação do mal no partido: “O Serra
historicamente é sinônimo de desagregação do PSDB nacional, estadual e
municipal”, vocifera. Outro integrante do partido acha que, pior do que Serra,
são os serristas. O método do grupo mantém o partido em crise permanente,
para dentro, e para fora expressa “posições elitistas,
antipáticas e arrogantes”, às quais atribui a rejeição enorme atingida pelo
tucano nas últimas pesquisas de intenção de voto.
Serra aceitou participar das prévias porque não existia mais
caminho de volta. Em outros tempos e outras circunstâncias, teria conseguido
manobrar internamente para que os quatro pré-candidatos renunciassem em seu
favor. E, se as mesmas bases que no processo de escolha interna reclamam da
marginalização de uma militância histórica, ligada à formação do partido,
consagrarem o ex-prefeito como candidato, seguramente o PT terá uma enorme
contribuição nessa decisão.
No imaginário tucano, a ação do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva na disputa é uma estratégia de “aniquilamento” do PSDB nacional
que, se abatido em seu último reduto, São Paulo, estaria condenado ao fogo do
inferno. A ameaça de que o PT use uma eventual vitória na disputa pela
prefeitura da capital paulista para destruir a hegemonia tucana no Estado torna
Serra, o político com mais recall do partido, uma alternativa. Numa situação de
ameaça extrema, a tendência do partido, provavelmente, será a de não correr o
risco de lançar um nome novo na praça, mas apostar num candidato conhecido, e
torcer para que os recursos de marketing político sejam eficientes para vencer
a rejeição dos eleitores.
Ainda assim, o fato de o grupo de Serra ter passado como um
trator sobre uma Executiva que praticamente já tinha acordado o adiamento das
prévias marcadas para o dia 4 por uma semana, obrigando-a a engolir um
adiamento de pouco mais de um mês (de 4 para 25) pode ser o sinal de que o
ex-prefeito não está tão seguro de que possa nadar de braçada nas prévias, sem
tempo suficiente para reverter simpatias já conquistadas pelos candidatos José
Anibal e Ricardo Tripoli, mesmo contando com o apoio de Bruno Covas e Andrea
Matarazzo, que se retiraram da disputa. E também que o grupo do ex-prefeito
sabe que não conseguirá esvaziar o processo de escolha, o que o beneficiaria.
Segundo pesquisa feita internamente pelo partido, com uma
amostra de 773 dos 19.500 filiados, 89% têm a intenção de votar. Nessas
eleições, se vencer as prévias, Serra estará obrigado a sorrir e cumprimentar
eleitores potenciais em dose dupla: primeiro, dentro do seu partido; depois,
nas ruas da maior cidade da América Latina.
(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.
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