As eleições de 2014 ainda estão, para a vasta maioria da
população, a uma distância colossal. Nas pesquisas, só depois de algum esforço,
os cidadãos se recordam de que elas ocorrem daqui a um ano e meio.
Enquanto isso, nos meios políticos e na “grande imprensa”, é
como se fossem acontecer amanhã.
Será nossa terceira eleição nacional em que o presidente em
exercício é candidato. Antes de Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, em
1998, e Lula, em 2006, passaram pela experiência. Ambos tiveram sucesso, de
maneiras diferentes.
A que temos no horizonte se assemelha àquela do tucano. Nada
indica que Dilma terá de lidar com turbulências tão fortes quanto as que atingiram
Lula, seu governo e o PT em 2005 e 2006. Nem o mais exaltado oposicionista
imagina que ela venha a enfrentar situação análoga à que seu antecessor viveu
nos meses de auge das denúncias do “mensalão”.
Dilma deve disputar seu novo mandato em um momento mais
marcado pela normalidade do que pela excepcionalidade: sem crises agudas na
economia, na política ou no cotidiano da sociedade. Em 1998, FHC enfrentou uma
crise econômica séria, mas não suficientemente séria para impedir sua vitória
relativamente tranquila.
Apesar dessa semelhança, é grande o contraste entre o
ambiente de opinião que vivíamos em 1997 e o de agora.
A partir de junho daquele ano, quando promulgada a emenda que
permitiu a FHC concorrer a um novo mandato, entramos em período de calmaria. O escândalo
da compra de votos para aprovar a mudança constitucional havia amainado, a
tropa de choque governista impedira a instalação de qualquer Comissão
Parlamentar de Inquérito e a Procuradoria-Geral da União, dirigida por alguém
escalado para tudo engavetar, mantinha-se inerte. Os ministros da Suprema Corte
preferiam se entreter com outras coisas.
Nesse clima de tranquilidade, ninguém se pôs a especular a
respeito de nomes e cenários. Dir-se-ia que, uma vez estabelecido que FHC seria
candidato, independentemente dos meios utilizados, os comentaristas e analistas
ficaram satisfeitos com a perspectiva de que ele viesse a vencer as eleições
seguintes. É como se achassem que não era somente natural, mas desejável que o
peessedebista permanecesse no Planalto por mais quatro anos.
Um claro sintoma da pasmaceira é que nem sequer se fizeram
pesquisas sobre a eleição até o fim de 1997 (ao menos não foram divulgadas).
Apenas uma foi publicada, em novembro. Ninguém se mostrava ansioso a respeito
de quem tinha condições de ganhá-la.
O jogo havia sido jogado e o PSDB parecia imbatível.
A vantagem de FHC sobre seus oponentes era, no entanto, muito
menor do que a de Dilma hoje. Naquela pesquisa de novembro de 1997, realizada
pelo Ibope, o tucano obtinha 41%, seguido por Lula, com 16%, e Sarney, com 9%.
Sua liderança permaneceu modesta nos primeiros meses de 1998:
em março, segundo o Datafolha, repetiu os 41% (com Lula alcançando 25% e sem
Sarney). Caiu a pouco mais de 30% entre abril e junho, e voltou aos 40% daí em
diante. Na véspera da eleição, atingiu o pico, com 49%.
Nas muitas pesquisas sobre a próxima eleição feitas ao longo
de 2012, Dilma nunca obteve menos que 55% e muitas vezes chegou aos 60%. Mesmo
quando se colocaram na lista nomes para fazer barulho, entre eles o de Joaquim
Barbosa.
Quem achou, em 1997, que FHC ganharia com seus 40% não errou.
Um presidente bem avaliado, em um momento em que o País vai bem (ou parece
andar bem), tem tudo para vencer.
De onde, então, tiram os analistas da “grande imprensa” seu ceticismo
em relação às chances de reeleição de Dilma? De onde vem seu afã em identificar
os “formidáveis adversários” que poderiam derrotá-la?
No momento estão enamorados do governador pernambucano,
Eduardo Campos. Devem acreditar que as possibilidades de alguém do bloco
governista são maiores que aquelas de oposicionistas genuínos.
Não é isso, todavia, que desejam os vários “amigos” que
Campos tem hoje na mídia de direita e nos partidos de oposição. O que querem é
que seja um coadjuvante, que tome da presidenta votos à esquerda e no Nordeste,
e faça algo para ajudar o candidato do PSDB a suplantá-la.
É verdade que o dinamismo do socialista atrai os que se
sentem desconfortáveis com o estado atual da candidatura tucana. Aécio Neves
passa por um momento delicado, espremido entre as traições dos serristas e o
patético esforço da velha guarda de seu partido em abduzi-lo e mantê-lo sob
controle, encarregando-o da inglória missão de defender a “herança de Fernando
Henrique”.
Como o lançamento da Rede de Marina Silva deu em nada, resta
aos antilulopetistas no momento a ilusão Campos. Falta combinar com ele se
pretende ser o porta-voz da direita e se o eleitorado conservador o reconhecerá
e se sentirá confortável com ele.
Mas tudo é secundário. Como em 1997, quando a eleição de 1998
parecia definida – e estava mesmo –, a eleição de 2014 tem cara de resolvida.
Por mais que alguns se aborreçam.
CartaCapital
Nenhum comentário:
Postar um comentário