"A classe média sofre", essa é a imagem, não tão
sutilmente, estampada na capa da Veja desta semana e alvo de parodia na imagem
ao lado.
Para eles é uma situação de "desesperadora" ver as
trabalhadoras domésticas passarem a ostentar direitos trabalhistas. O
"pânico" é justificável, afinal, sobrará um pouco menos para as
compras em Miami.
O tom da cobertura midiática dos grandes veículos foi
uníssono ao destacar o aumento no custo para os empregadores, como este aumento
impactará nas despesas domésticas para manter uma empregada doméstica.
O jornal francês Le
Monde classificou como "A ‘segunda
abolição da escravidão’ para as empregadas domésticas brasileiras", um tom
muito diferente e raro de vermos estampados nas manchetes por aqui. A matéria
lembra que o Brasil é campeão mundial do trabalho doméstico, de acordo com a
Organização Mundial do Trabalho. "Com 6,1 milhões de empregados ‘de casa’,
e 15% das mulheres ativas do país, a profissão é a terceira mais exercida pelas
mulheres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. As vagas
são ocupadas por cidadãs negras e, em mais de 70% dos casos, de maneira
informal".
A nova legislação estende à categoria direitos como o controle
da jornada de trabalho — com limite de 8 horas diárias e 44 horas semanais —,
horas extras, FGTS obrigatório e seguro-desemprego. Um direito que já deveria
estar em vigor há muito tempo e que agora passará a ser estendido as
trabalhadoras domésticas.
Esta situação exemplifica o quanto ainda é necessário avançar
na superação das amarras herdadas do nosso passado colonial escravocrata. No
século XXI o Brasil começa a superar heranças do século XIX. Neste processo,
não faltará o choro da elite a denunciar o "absurdo" que será ter que
eles próprios lavar suas louças ou arrumar sua própria cama. Imagina quando
começarmos a avançar em temas como as arcaicas legislações referentes a
heranças e ao uso social da terra no país?
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