DAVIS SENA FILHO
Os proprietários de órgãos de comunicação privados insistem
em dar uma conotação nobre às suas atividades, quando, na verdade, a informação
e a opinião, que são os produtos vendidos por eles, têm o propósito de defender
os interesses da classe dominante
Depois de acompanhar a cobertura da imprensa de mercado, ou
seja, de negócios privados sobre a morte do estadista e revolucionário, Hugo
Chaves, cheguei à seguinte conclusão:
Há algum tempo, quando eu era um jovem jornalista, percebi
que as redações da imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos,
tá?) praticam apenas o jornalismo empresarial, de negócios, bem como,
irrefragavelmente, tem lado, cor, partido, ideologia e preferências culturais,
raciais e de classe social.
Sabem por que essas distorções acontecem nas redações? Porque
o jornalismo é tratado como produto por empresas de comunicação cujos
proprietários são megaempresários, que estão a fim de ganhar dinheiro, aliás,
muito dinheiro, como qualquer grande capitalista de outro ramo de negócios.
Contudo, esses comerciantes, proprietários de órgãos de
comunicação privados, insistem em dar uma conotação nobre às suas atividades,
quando, na verdade, a informação e a opinião, que são os produtos vendidos por
eles, têm o propósito de defender os interesses da classe dominante a qual eles
pertencem. Por isto e por causa disto, atacam, sistematicamente, seus
adversários políticos, e, para isto, manipulam e distorcem os fatos e as
realidades, com a finalidade de impor suas "verdades", e,
consequentemente, manter, indefinidamente, o status quo do qual sempre se
beneficiaram em forma de privilégios.
Por isto e por causa disto, temos um jornalismo partidário,
sectário e conservador, elaborado, escrito e apresentado por jornalistas filhos
das classes média e média alta, quando não de origem rica. São profissionais
pequenos burgueses e que sonham desde sempre com ascensão social, fama, além do
acesso a um mundo VIP, de preferência paralelo ao mundo real, porque a meta e o
desejo é fugir das massas nem que para isso tenha de viver das sobras de seus
patrões, que são os inquilinos da parte mais alta da pirâmide social..
Esses jornalistas não conhecem o Brasil, as suas diferentes
regiões e culturas e muito menos compreendem as questões, as necessidades e as
dificuldades das classes sociais menos privilegiadas. Agem assim porque
inexiste neles o compromisso com o País e o seu povo, porque prezam
essencialmente os valores individuais, que se alicerçam em uma sociedade de
consumo, que, equivocadamente, mede e avalia as pessoas pelo o que elas têm e
não pelo que elas são.
Parte desses jornalistas por ser assim integra e serve, de
forma espontânea e natural, um sistema midiático de direita acumpliciado com os
interesses econômicos e financeiros dos barões da imprensa, dos proprietários
de mídias cartelizadas e monopolistas, que, por sua vez, são sócios e
porta-vozes dos interesses dos grandes capitalistas nacionais e internacionais.
Características de tal ordem me levam a afirmar que os barões
da imprensa são imperialistas e colonialistas, bem como os replicadores do
pensamento conservador nacional e internacional. Ao controlarem os meios de
comunicação e de informação, eles passam a influenciar e a domesticar o
pensamento, os valores e até mesmo os sonhos e os propósitos rotineiros da
população em geral e em especial das classes média e média alta, que, alienadas
e conservadoras, aliam-se àqueles que combatem, historicamente, a distribuição
de renda e de riqueza, porque não desejam um Brasil justo, independente e
democrático, e muito menos querem o povo brasileiro emancipado e soberano.
Os jornalistas os quais faço críticas são exatamente assim.
Agem dessa forma, como se fossem patrões. Eu os conheço e sei de suas vaidades
e manias de grandeza que se baseiam na ascensão social. São meros burgueses e
acreditam em valores estritamente comerciais e de modismos, que os levam a
pensar que subiram de status. Detestam ter de lidar com tudo o que seus pais
sempre desprezaram: conviver com os mais pobres e ter de ouvir suas queixas e
necessidades, Afinal a redoma de cristal onde vivem é um lugar para as poucas
pessoas que eles consideram seus semelhantes.
Os homens e as mulheres comprometidos com seus patrões e, por
conseguinte, com o jornalismo alienígena e de negócios privados se vestem e se
comportam como yuppies cujos valores se confundem com o mundo neoliberal que
derreteu as economias, as almas e o orgulho da Europa Ocidental, do Japão e dos
Estados Unidos. Um mundo fútil e leviano, que se alicerça em falso moralismo e
que edifica a ganância, o egoísmo, o materialismo e constrói a guerra entre as
pessoas, as sociedades e os países.
Por isto e por causa disto, resolvi no já longínquo ano de
1995 não trabalhar mais em redações da imprensa comercial e privada (privada
nos dois sentidos, tá?). Hugo Chávez pertence à história, e, indelevelmente, ao
povo venezuelano e latino-americano. É isso aí.
Postado por O TERROR DO NORDESTE
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