Por Emir Sader
O pensamento social latino-americano tem uma longa tradição,
que cruzou praticamente todo o século passado, enganchado com os principais
movimentos de transformação politica do século.
Historiadores marxistas escreveram, pela primeira vez, a
história de nossos países e do continente, centrados nas formas que assumia o
capitalismo aqui e não simplesmente como apêndice da história europeia.
Economistas desvendaram as formas de inserção subordinadas de nossas sociedades
como periferia do desenvolvimento do capitalismo europeu e norte-americano.
Entre tantas outras contribuições, pensadores latino-americanos construíram um
pensamento de vanguarda, que apontou as contradições, os dilemas, as
perspectivas de nossos países ao longo de grande parte do século passado.
As transformações radicais pelas quais o mundo passou nas
últimas décadas do século passado afetaram as condições da produção teórica, os
próprios temas abordados prioritariamente e as correntes de pensamento
predominantes. Em primeiro lugar, o fim do campo socialista fez com que alguns
achassem que é necessário se resignar ao capitalismo e buscaram a melhor forma
de se adequar a esse sistema.
Paralelamente, o liberalismo avançou e consolidou posições
hegemônicas, em suas varias vertentes, tanto a econômica, quanto a política. Ao
mesmo tempo – e não de forma acidental – aumentou o fechamento dos intelectuais
acadêmicos dentro dos muros das universidades, com refúgio em temas
fragmentários e sem transcendência politica na sua vida profissional.
Por outro lado, a mercantilização que o neoliberalismo
promove em todos os poros da sociedade, produziu a mídia como espaço
fundamental de formação da opinião pública, com seus “intelectuais” midiáticos,
ao mesmo tempo que a partidarização da mídia fez com que deixasse de ser um
lugar de debate de opiniões contraditórias.
A produção intelectual foi profundamente afetada por todos
esses efeitos. Como resultado político mais geral, a intelectualidade hoje, no
momento em que o Brasil e a América Latina vivem um momento de virada – prenhe
de contradições e complexidades –, talvez não esteja à altura desse momento
histórico. Não têm sido vanguarda desses processos mas, com raras exceções, têm
estado marginados deles ou atrás dos problemas que esses novos processos
latino-americanos enfrentam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário