terça-feira, 19 de março de 2013

Intelectuais e processos políticos



Por Emir Sader

O pensamento social latino-americano tem uma longa tradição, que cruzou praticamente todo o século passado, enganchado com os principais movimentos de transformação politica do século.
Historiadores marxistas escreveram, pela primeira vez, a história de nossos países e do continente, centrados nas formas que assumia o capitalismo aqui e não simplesmente como apêndice da história europeia. Economistas desvendaram as formas de inserção subordinadas de nossas sociedades como periferia do desenvolvimento do capitalismo europeu e norte-americano. Entre tantas outras contribuições, pensadores latino-americanos construíram um pensamento de vanguarda, que apontou as contradições, os dilemas, as perspectivas de nossos países ao longo de grande parte do século passado.
As transformações radicais pelas quais o mundo passou nas últimas décadas do século passado afetaram as condições da produção teórica, os próprios temas abordados prioritariamente e as correntes de pensamento predominantes. Em primeiro lugar, o fim do campo socialista fez com que alguns achassem que é necessário se resignar ao capitalismo e buscaram a melhor forma de se adequar a esse sistema.
Paralelamente, o liberalismo avançou e consolidou posições hegemônicas, em suas varias vertentes, tanto a econômica, quanto a política. Ao mesmo tempo – e não de forma acidental – aumentou o fechamento dos intelectuais acadêmicos dentro dos muros das universidades, com refúgio em temas fragmentários e sem transcendência politica na sua vida profissional.
Por outro lado, a mercantilização que o neoliberalismo promove em todos os poros da sociedade, produziu a mídia como espaço fundamental de formação da opinião pública, com seus “intelectuais” midiáticos, ao mesmo tempo que a partidarização da mídia fez com que deixasse de ser um lugar de debate de opiniões contraditórias.
A produção intelectual foi profundamente afetada por todos esses efeitos. Como resultado político mais geral, a intelectualidade hoje, no momento em que o Brasil e a América Latina vivem um momento de virada – prenhe de contradições e complexidades –, talvez não esteja à altura desse momento histórico. Não têm sido vanguarda desses processos mas, com raras exceções, têm estado marginados deles ou atrás dos problemas que esses novos processos latino-americanos enfrentam.

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