domingo, 31 de março de 2013

Mídia da Casa-Grande quer manter empregados domésticos na Senzala



 Posted por Alexandre Haubrich

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) aprovada no Senado nesta terça-feira e que garante novos direitos aos empregados domésticos foi manchete nos sites dos maiores jornais do país. Com a tendência de aprovação já forte, a cobertura já começara nos últimos dias, e foi sempre marcada por um viés elitista e excludente.
A preocupação dos jornalões foi, durante toda a cobertura da PEC, com os gastos dos patrões. Uma sequência de demonstrações de que o compromisso com o jornalismo, a crítica e o questionamento foi abandonado, ao mesmo tempo em que se reafirma o compromisso comercial acima de tudo e o compromisso com as elites nacionais. Apenas o Estadão foi na contramão, destacando os novos direitos, a posição de sindicalistas e “o que muda para a categoria”.
A Folha de S. Paulo fez uma enquete com a pergunta: “você é a favor da PEC dos empregados domésticos?”. Questão claramente dirigida aos patrões, como toda a cobertura. Outra matéria tem por título “Custo anual de doméstico que ganha R$ 1000 pode subir mais de 18%”. O empregado é tratado como um objeto, e esse é a manifestação discursiva da prática das elites em uma sociedade capitalista. É o papel que cumpre esse setor da mídia.

Reprodução ZH
O site de Zero Hora foi na mesma direção, mas, como costuma acontecer, extrapolando os problemas dos outros jornais. ZH publicou um “mural” com a seguinte questão: “Você tem dúvidas sobre as novas regras de contratação de empregada doméstica?”. As perguntas devem, assim, ser sobre a “contratação” das empregadas domésticas, e não sobre os novos direitos conquistados por esses trabalhadores. E o “auge” da cobertura ainda estava por vir, com um infográfico que sugere: “Calcule o custo de manter uma empregada doméstica com a aprovação das novas regras”. O patrão é convidado a preencher quadro com o salário mensal e o total de horas extras diurnas, e recebe, então, o cálculo do FGTS, do INSS, e do valor final.
Os direitos conquistados, a luta histórica, a dominação representada pela relação entre trabalhadores domésticos e seus patrões, as questões de gênero e de raça e a herança da escravidão contida nessa prática, tudo isso é deixado em segundo plano, ficando também em segundo plano o jornalismo.
A mídia, o aparato ideológico-discursivo, é criador e criatura de uma sociedade doente, que não reconhece os direitos dos outros e não luta pelo seus. Uma sociedade onde o sonho do oprimido, alimentado pela mídia dominante, é tornar-se opressor. Essa é sua única expectativa, e o individualismo excludente reforça essa tendência. O discurso da mídia das elites alimenta esse sonho e esvazia as lutas e conquistas coletivas.

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