Pequenas autoridades
Theodoro tem dois anos e 11 meses e o apelido de
"Theorremoto", ganho às custas de muita birra. "Não muito
orgulhosa disso", a mãe, a estilista Marina Breithaupt, 32, diz que o
menino manda nela, no pai e na irmã de 11 anos.
"Saímos quando ele quer, assistimos ao que ele gosta na
TV. Ele quer tudo antes da irmã e decidiu que não dorme mais na cama dele, só
na nossa", conta a mãe.
Se ouvir um não, o menino "faz escândalo, vira um
inferno". A família deixou de ir a shopping porque Theo quer tudo que vê.
E só vai a restaurante que tem parquinho: um dos pais brinca com ele enquanto o
outro come.
A última do garoto é não querer ir à escola. "Já acorda
dizendo que não vai. Num domingo, resolveu que queria ir", diz Marina.
"Sou rígida, mas acabo cedendo para evitar problemas. Ele tem
personalidade dominadora."
Ele e uma geração inteira de pequenos ditadores, na
explicação de Marcia Neder, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Psicanálise e
Educação da USP e autora do livro "Déspotas Mirins - O Poder nas Novas
Famílias" (Zagodoni, 144 págs., R$ 34).
"Vivemos uma 'pedocracia'", diz, dando nome ao
fenômeno das famílias sob o governo das crianças. "Há 50 anos, elas não
tinham querer. Agora, mandam."
Segundo Neder, estamos no ápice da tirania infantil.
"Muito se fala sobre declínio de poder paterno e ascensão do materno.
Discordo. Quem ganhou poder nas últimas décadas foram os filhos", diz.
A falta de limites é sinal da derrota dos pais, na visão
dela. "A criança foi a grande vitoriosa do século 20."
E não precisa ser mandão para manter o reinado. Mesmo sem
espernear, os filhos têm as vontades atendidas e a rotina da casa organizada em
função deles. "O adulto é um satélite em volta da criança", diz
Neder, que considerada urgente um esforço pela retomada do poder adulto.
"Vamos pagar o preço de ver esses tiranos crescidos."
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