Para Maria do Rosário, quem se envolveu com torturas e
assassinatos ‘traiu qualquer princípio ético de dignidade’
Roldão Arruda - O Estado de S. Paulo
A ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse nesta
sexta-feira, 15, em São Paulo que pessoas envolvidas em situação de morte,
tortura e desaparecimento forçado no período da ditadura militar não devem
ocupar funções públicas. Ela fez a afirmação ao responder a uma pergunta sobre
as denúncias de que o atual presidente da Confederação Brasileira de Futebol,
José Maria Marin, teria contribuído para a morte do jornalista Vladimir Herzog.
"Eu penso que
todas as pessoas que comprovadamente estiveram envolvidas em situação de morte,
tortura e desaparecimentos forçados não devem ocupar funções públicas no
País", afirmou. "Porque os que cometeram - e se cometeram
comprovadamente estes atos -, traíram qualquer princípio ético de dignidade
humana e não devem ocupar funções de representação."
A ministra não citou o nome de Marin e fez questão de
enfatizar que as denúncias precisam ser comprovadas. Ela esteve em São Paulo
para participar da cerimônia realizada na USP para homenagear o estudante
Alexandre Vannuchi Leme, morto sob tortura em 1973, e também para entregar
oficialmente à família do jornalista Vladimir Herzog, também morto sob tortura,
em 1975, o novo atestado de óbito.
A viúva de Herzog, Clarice, também falou na ocasião sobre a
polêmica em torno de Marin. Lembrou que, pouco antes de Vladimir assumir seu
cargo na TV Cultura, em 1975, o jornalista Claudio Marques, que assinava uma
coluna num jornal semanal de São Paulo, escreveu que aquele emissora estava
sendo tomada por comunistas.
Coro. Logo em seguida, na Assembleia Legislativa, em São Paulo,
o deputado Wadih Helu repercutiu e apoiou a denúncia do colunista. Na mesma
ocasião, Marin cobrou explicações das autoridades sobre as denúncias, que
estariam gerando "intranquilidade" nas famílias. Pouco dias depois,
Herzog, que era filiado ao Partido Comunista, foi preso e assassinado.
"Houve um coro, com o Wadih Helu e o Marin",
lembrou Clarice, referindo-se ao episódio. "Tinha um pessoal que estava no
poder e era absolutamente reacionário, a favor da tortura."
Circula atualmente na internet uma petição, que deve ser
entregue à direção da CBF, cobrando o afastamento de Marin da presidência da
entidade. Ela foi lançada por Ivo Herzog, filho do jornalista, que deverá ir à
sede da CBF, no Rio, assim que coletar 50 mil assinaturas.
Ainda na cerimônia desta sexta, a ministra Maria do Rosário
afirmou que o Estado brasileiro ainda deve explicações às famílias dos mortos e
desaparecidos no período da ditadura. "Devemos produzir respostas que
sejam coerentes, justas", afirmou. Para ela, a democracia no País vai se
sentir envergonhada enquanto "todas as respostas não forem oferecidas às
famílias".
A cerimônia desta sexta, na USP, para homenagear Vladimir
Herzog e Alexandre Vannuchi Leme, reuniu representantes dos governos de
Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Leia mais em: Blog Sujo : Criminoso da ditadura não pode ter
cargo público, diz ministra
Nenhum comentário:
Postar um comentário