Daniel Mello - Agência Brasil
O filme narra os fatos que levaram ao golpe militar de 1964
(Marcelo Camargo/Agência Brasil )
São Paulo – O documentário 1964 - Um Golpe contra o Brasil,
realizado pelo Núcleo de Preservação da Memória Política e dirigido por Alipio
Freire, estreia hoje (2) no Memorial da Resistência, museu que ocupa o antigo
prédio do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops), próximo à
Estação da Luz, no centro da cidade. Com linguagem didática, a obra esclarece
pontos que, na opinião do diretor, vêm sendo deixados de lado nos estudos sobre
o regime militar.
“Nos preocupa muito
que as pessoas sejam extremamente solidárias com os resistentes, em termos do fato
de terem sido presos e torturados, mas que não saibam exatamente contra o que
eles resistiam. Porque a história oficial é um terror”, destacou Freire.
Uma das ideias que o filme tenta desconstruir é a de que a
ditadura foi uma iniciativa apenas dos militares. “Acabar com essa lenda de que
o golpe foi militar. Não foi de uma corporação, foi de uma classe: do grande
capital internacional e de seus associados dentro do Brasil contra um projeto
nacional desenvolvimentista”, assinala Freire.
“Não era nem um
projeto socialista, era um projeto de desenvolvimento nacional,
autossustentado, baseado na distribuição de renda e com uma política externa
independente”, explica o diretor sobre o projeto de João Goulart, que foi
descontinuado com o golpe que o retirou da Presidência.
O filme é uma narrativa dos fatos que levaram ao golpe e à
ditadura que comandou o país de 1964 a 1985. O período escolhido pelo diretor
começa com a eleição de Jânio Quadros e vai até a eleição do marechal Castello
Branco, em abril de 1964. Segundo Freire, o objetivo é “mostrar quem deu o
golpe, porquê deu o golpe, a serviço de quem estavam. O papel dos Estados
Unidos dentro disso tudo. O mundo polarizado da Guerra Fria como pano de
fundo”.
Para contar a história foram feitas mais de 20 entrevistas
com pessoas que atuavam politicamente naquele tempo e que resistiram ao golpe,
como a jornalista Rose Nogueira, o líder sindical Derly José de Carvalho e o
ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Aldo Arantes. Os
depoimentos pessoais servem, de acordo com o diretor, para estruturar uma
narrativa sobre os fatos retratatos. “Não há memória individual. Ninguém é o
centro do vídeo. O centro do vídeo é a história do Brasil naquele momento”,
enfatiza Freire.
Também foram consultadas mais de uma dezena de fontes para
reunir as imagens que compõe o filme. São usadas fotos e vídeos do Arquivo
Público de São Paulo, do Insituto João Goulart, do Arquivo Nacional, dos
arquivos na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual de
Campinas, entre outros.
Após a primeira exibição, o documentário passará a ser
divulgado por movimentos sociais e será feita uma versão seriada. A divisão em
capítulos tem o objetivo de facilitar a exibição em redes de TV ou o uso como
material didático.
Edição: Andréa Quintiere
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