Por Nicolau Soares, especial para
a Rede Brasil Atual
Manifestantes pró-ciclismo de toda
a cidade de São Paulo realizam hoje (2), às 19h, um ato de luto em homenagem a
uma ciclista de 33 anos que morreu pela manhã depois de ser atropelada por um
ônibus da empresa Via Sul, linha Sacomã-Pompéia 478-P-31, na avenida Paulista,
nos Jardins. O ato, batizado de Bicicletada, terá início na praça do Ciclista,
no cruzamento da Paulista com a rua da Consolação. Eles vão carregar uma
bicicleta branca (ghost bike) em homenagem à ciclista Juliana Dias, bióloga,
que pedalava em direção ao trabalho quando foi atingida, na altura do número
1.200 da avenida, próximo à rua Pamplona.
Na sequência do fato, cerca de
dez ciclistas realizaram no local um protesto chamado “Die In”: deitaram-se ao
lado de suas bicicletas simulando estarem mortos no asfalto. Os manifestantes
foram carregados pelos policiais para a calçada. A foto ao lado foi divulgada
por Laura Sobenes via Facebook e correu rapidamente as redes sociais.
A depiladora Maria Célia dos Reis
Fagundes, de 44 anos, aguardava para atravessar a Paulista. Segundo ela, a
ciclista discutiu com o motorista de outro coletivo quando se desequilibrou e
caiu.
“Eu estava parada e vi a moça
discutindo com o motorista de um ônibus. Ela levantou uma das mãos para
reclamar, perdeu o controle e caiu. A roda de outro ônibus passou por cima
dela”, afirmou a mulher, bastante abalada durante o relato. Ela disse que o
motorista do veículo que atropelou a ciclista ainda tentou ajudar, mas ela
morreu no local.
A falta de infraestrutura para as
bicicletas na capital Paulista, associada ao desrespeito por parte dos
motoristas, já fez mais de uma vítima na capital. Em janeiro de 2009, a
ciclista Márcia Regina de Andrade Prado, 40, morreu na avenida após ser
atropelada por um ônibus. Mais recentemente, em junho do ano passado, o ciclista
Antonio Bertolucci, 68, também morreu após ser atropelado por um ônibus fretado
na avenida Paulo VI, na zona oeste da capital. As mortes geraram uma série de
manifestações de ciclistas pelo respeito no trânsito.
O urbanista e professor da
FAU-USP Alexandre Delijaicov lembra que o Código Brasileiro de Trânsito já
prevê desde 1998 que a faixa da direita é reservada para o trafego preferencial
de bicicletas. De fato, o artigo 58 do CBT diz: “Nas vias urbanas e nas rurais
de pista dupla, a circulação de bicicletas deverá ocorrer, quando não houver
ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando não for possível a utilização
destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulação
regulamentado para a via, com preferência sobre os veículos automotores.”
"Existe uma perversão
latente no motorista cotidiano, uma desconsideração pelo outro que gera uma
perversão no relacionamento do mais forte com o mais fraco”, afirma Delijaicov.
“Todos os anos os motoristas deveriam fazer uma reciclagem, se colocar na
posição do pedestre ou do ciclista, usar pesos para precisar de muleta”,
completa.
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